terça-feira, 29 de junho de 2010

Um furacão de austeridade paira sobre a Europa - "Reduzir gastos sociais para pagar credores"

Economia| 28/06/2010 | Copyleft 



Um furacão de austeridade paira sobre a Europa

"Reduzir gastos sociais para pagar credores" - que só visaram lucros e bonus - sem avaliar riscos. E, assim, gestaram a crise.


Ver: Um roteiro em dez passos de uma Crise Financeira 
http://sinapsesgaia.blogspot.com/2010/05/um-roteiro-em-dez-passos-de-uma-crise.html


O Fundo Monetário Internacional, depois de impor durante anos medidas duras de ajustamento das contas públicas aos países do sul, impõe agora as suas receitas neoliberais na Europa, diminuindo os direitos laborais em favor de políticas liberais que perpetuam o sistema capitalista. Por Jérôme Duval, Damien Millet e Sophie Perchellet, do Comité para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM).
Do Portal Esquerda.Net

A crise actual é o meio ideal para que o FMI aplique na Europa as suas receitas ultraliberais adulteradas, receitas essas que anda a impor aos países em desenvolvimento desde o início dos anos 80. Desautorizado durante três décadas de planos de ajustamento estrutural impostos brutalmente aos povos do sul, o FMI volta ao centro do jogo político a partir do momento em que o G20 se responsabiliza pela gestão da crise, em 2008.

O sul foi o primeiro campo de batalha. A Europa é agora a sua continuação. O FMI multiplica os empréstimos a alguns países europeus que se encontram em dificuldades para pagar uma dívida pública aumentada repentinamente devido à desaceleração económica e aos planos de salvamento de bancos, cuja desenfreada procura de lucros levou, justamente, a esta crise. Em 2007, a Turquia era o único país de envergadura que ainda batia à porta do FMI. Muitos outros países como o Brasil, a Argentina, o Uruguai, as Filipinas, etc., tinham cancelado antecipadamente a sua dívida com o FMI para se libertarem da sua incómoda tutela. O tempo das vacas magras foi ultrapassado e, em menos de um ano, o FMI já abriu uma linha de crédito para uma dezena de países europeus e intervém desde essa altura em múltiplas frentes.

Agora, a instituição vê que os seus lucros quadruplicaram durante o exercício de 2009-2010 (fechado em finais de Abril), mesmo sem ter em conta a venda de parte das suas reservas de ouro. Lucros que são de 534 milhões de dólares face aos 126 milhões de dólares do exercício anterior. Confiar a gestão da crise a um organismo que tira proveito dela a este ponto não deveria deixar os cidadãos tranquilos… Por outro lado, enquanto o Fundo impõe o congelamento, ou redução, dos salários um pouco por todo o lado, o seu director-geral, o socialista francês Dominique Strauss-Kahn «sofreu» um aumento superior a 7% desde a sua chegada, estabilizando no meio milhão de dólares/ano.


O primeiro país atingido foi a Hungria, antes da Ucrânia, Islândia e Letónia. Depois, em 2009, foram a Bielorrússia, Roménia, Sérvia, Bósnia e, mais recentemente, a Moldávia e a Grécia. A lista de países que solicitam empréstimos à instituição continua a aumentar e todos eles são obrigados a aplicar os planos de austeridade ditados pelos mercados financeiros, pelo FMI e pela União Europeia.

O impacto social desastroso sobre as populações recorda-nos os planos de ajustamento estrutural de sinistra memória, implantados a sul depois da crise da dívida de 1982. Estes planos de austeridade têm como objectivo uma forte redução dos gastos públicos, sem atingir o grande capital, a fim de arranjar os fundos necessários para reembolsar prioritariamente os credores.

A Hungria abre a dança dos ajustamentos

Em Outubro de 2008, foi aprovado um plano para a Hungria de 20 mil milhões de euros: 12.300 milhões emprestados pelo FMI, 6.500 milhões emprestados pela União Europeia e 1.000 milhões de euros emprestados pelo Banco Mundial. Além do crescimento automático do stock da dívida e da perda líquida, devido ao pagamento de juros, implantou-se uma série de condições severas para a população: aumento de 5 pontos no IVA, actualmente nos 25%; aumento da idade legal de reforma para os 65 anos; congelamento de salários para os funcionários públicos durante dois anos; supressão do subsídio de Natal para os reformados.

A Hungria, governada pelos sociais-democratas, tinha conseguido salvaguardar um sistema social bastante protector. O descontentamento da população em consequência da aplicação, sob a ameaça do FMI, dessas medidas de austeridade, beneficiou a direita conservadora que acusou os sociais-democratas no poder de terem transformado o país numa «colónia do FMI» (conforme escreveu o jornal conservador Magyar Nemzet). No entanto, a vitória do novo primeiro-ministro conservador Viktor Orban foi aclamada pela agência de notação financeira Fitch Ratings, que considera que o partido de Orban, o Fidesz, obteve a maioria necessária para modificar a Constituição e, por isso, «representa uma oportunidade para introduzir reformas estruturais».

Os sociais-democratas sofreram uma derrota histórica nas eleições legislativas de Março de 2010 e abriram as portas à extrema-direita, que entrou no parlamento pela primeira vez, com 16,6% dos votos.

Ucrânia sancionada pelo FMI

O FMI aprovou, em Novembro de 2008, um programa de resgate de dois anos para a Ucrânia que atingiu os 16.400 milhões de dólares. Até Maio de 2010, o país só tinha recebido 10.600 milhões de dólares da instituição. Porquê? Porque desde o aumento de 20% no salário mínimo, aprovado pelo governo anterior de Viktor Yúshenko em finais de Outubro de 2009, o FMI suspendeu a entrega de fundos. A visita de uma delegação ucraniana a Washington, em Dezembro de 2009, não resultou em qualquer alteração e o pagamento de uma nova fracção do crédito permanece bloqueado.

O último pagamento remonta a Julho de 2009, devido à falta de acordo de Kiev acerca das condições. O FMI fixou o défice orçamental previsto para 2010 em 6% do PIB, enquanto o governo propõe um défice de 10% para não ter de apertar tanto o cinto. Fortemente penalizada pela crise, a Ucrânia sofreu uma queda de 15,1% do PIB em 2009, e conseguir um défice de 6% em 2010, como exige o FMI, é uma missão impossível.

Enquanto espera, a Ucrânia teve de aprovar o aumento da idade da reforma e o aumento de 20% na tarifa do gás aos particulares, a partir de 1 de Setembro de 2009. Prevê-se uma privatização e recapitalização dos bancos. A privatização da fábrica química de fertilizantes de Odessa volta a estar sobre a mesa, apesar da sua importância estratégica para a região e para o Estado, e apesar de as críticas que podem ser feitas relativamente às suas práticas ambientais. O novo governo, formalizado em Março de 2010 com a eleição presidencial de Viktor Yanukóvich, propõe, entre as suas prioridades, continuar a solicitar ajudas ao FMI. Dessa forma, espera obter um plano de apoio de 19.000 milhões de dólares do FMI, depois de fazer o parlamento aprovar um orçamento para 2010 que prevê reduzir o défice até 5,3% do PIB, superior às próprias exigências do Fundo. A visita do FMI, no fim de Março de 2010, foi a oportunidade para se aproximar do novo governo com vista ao relançamento do crédito, acompanhado por futuras medidas de austeridade.

Grécia: berço da democracia

Enquanto a Grécia, sufocada por uma dívida recorde, batia à porta da União Europeia e do FMI (em princípio para um empréstimo de urgência de
45 mil milhões de euros, dos quais 15 mil milhões correspondiam ao FMI) a agência de notação financeira Standard & Poor’s diminuía (em três níveis) a nota da sua dívida, a 27 de Abril de 2010. Os mercados caem e os investidores especulam em baixa, acentuando a tendência.

O primeiro-ministro Papandreu declarava a 11 de Dezembro de 2009 que «os assalariados não pagarão por esta situação. Não procederemos à congelação ou à redução dos salários. Não chegámos ao poder para desmantelar o Estado social». No entanto, em 18 de Março de 2010 começou a ser minuciosamente elaborado um plano comum UE - BCE – FMI com o acordo do PASOK, o partido de Papandreu no poder, cuja contrapartida seria uma cura de austeridade sem precedentes, de modo a economizar, à custa do povo grego, 4.800 milhões de euros em Março de 2010 e, depois, mais 30 mil milhões em Maio, de acordo com um novo plano, com o objectivo de pagar aos credores.

No menu, o congelamento de contratações e a redução dos salários dos funcionários (corte substancial nos pagamentos extraordinários, diminuição dos prémios, apesar de uma anterior redução dos salários decidida em Janeiro de 2010); congelamento das pensões; aumento do IVA de 19% para 23% – apesar de se tratar de um imposto injusto que afecta maioritariamente os mais desfavorecidos –; aumento dos impostos sobre o álcool e o tabaco; redução drástica das despesas sociais, como a Segurança Social, etc.. Os direitos sociais são sacrificados no altar dos interesses da «elite tradicional local» e das despesas militares, o orçamento mais importante da UE, relativamente ao seu PIB. A população reagiu em força e organizou greves gerais (nos dias 10 de Fevereiro, 11 de Março, 5 de Maio e 20 de Maio de 2010) que paralisaram o país muitas vezes.

Os romenos também vêm para a rua

Juntamente com a Bulgária, a Roménia é um dos países mais pobres da União. Em Março de 2009, a Roménia obteve um empréstimo de cerca de
20 mil milhões de euros: 12.900 milhões correspondentes ao FMI, 5.000 milhões à UE, entre 1.000 e 1.500 milhões ao Banco Mundial e o restante a várias instituições, entre as quais figura o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD). Em troca, Bucareste comprometeu-se a reduzir o seu défice público de 7,9% do PIB em 2009 para 5,9%, mas ao considerar-se este objectivo não realista, fixa-se finalmente em 6,8% em 2010. No menu, mais do mesmo: congelamento de pensões e de salários com a manutenção do salário mínimo em 600 lei brutos (145 euros), supressão de 100 mil funcionários públicos em 2010, ou seja, 7,5% dos efectivos da função pública. Ali também a população se mobilizou contra as medidas de austeridade. A 19 de Maio, mais de 60 mil manifestantes concentraram-se diante da sede do governo no momento em que este reforçava o seu programa de ajustamento, ao anunciar uma redução de 25% no salário dos funcionários públicos e de 15% nos subsídios de desemprego e nas pensões, cujo mínimo é já de 85 euros.
Além disso, o governo prevê a redução por decreto dos subsídios às famílias, bem como das ajudas dadas aos deficientes, a partir de 1 de Junho de 2010. É novamente à custa dos mais pobres que se quer pagar a crise, evitando-se cuidadosamente onerar o capital: o imposto de sociedades caiu 9 pontos, passando de 25% em 2000 para 16% em 2009.

Os islandeses recusam-se a pagar

Antes da famosa nuvem de cinzas vulcânicas que paralisou o espaço aéreo europeu, em 2010, durante vários dias, a Islândia já tinha sido notícia de grande actualidade devido a uma grave crise em 2008. O desemprego tinha passado de 2%, em Outubro de 2008, para 8,2%, em Dezembro de 2009. O Estado salvou da falência os três principais bancos do país, endividando-se enormemente e não podendo, mais tarde, garantir o reembolso aos detentores britânicos e holandeses dos seus títulos. O povo islandês viu-se obrigado a pagar essa dívida mediante a lei Icesave, apoiada pelo FMI, e adoptada com enorme irresponsabilidade e deslealdade no último dia do ano de 2009, uma dívida que tinha servido para trazer novamente à tona os banqueiros culpados.

Depois de uma grande mobilização popular, a lei foi rejeitada por mais de 73% da população no referendo de Março de 2010. Um relatório da SIC (Special Investigative Commission) apresentado em Abril perante o parlamento, questionou a responsabilidade de alguns dirigentes dos grandes bancos e de membros do governo cessante, em particular a do anterior primeiro-ministro, na crise bancária de 2008. David Oddsson, que dirigia o Banco Central em 2008, fugiu justamente antes da publicação desse relatório e escapou assim à Justiça do seu país.


Quatro antigos dirigentes do Banco Kaupthing, entre eles o anterior Presidente-Director-Geral Hreider Mar Sigurdsson, foram detidos à sua chegada a Luxemburgo, onde residiam. Sigurdur Einarsson, presidente do conselho de administração, refugiado em Londres, tem também uma ordem de detenção, emitida pela Interpol.

Em conluio com o FMI, a União Europeia dita as suas vontades aos governos e impõe medidas bastante impopulares. Em Novembro de 2009, o parlamento europeu emprestou à Sérvia 200 milhões de euros; à Bósnia-Herzegovina, 100 milhões de euros; à Arménia, 65 milhões de euros de empréstimo e 35 milhões de euros de subvenção; e à Geórgia, uma subvenção de 46 milhões de euros.

Esmagados pela especulação sobre a dívida, antes mesmo da intervenção do FMI, os estados tomam a iniciativa e prevêem reformas anti-sociais em Espanha, Portugal, Irlanda, Itália… Por toda a parte estes tratamentos de austeridade espremem os salários e preservam o grande capital, responsável por este beco sem saída capitalista. Por toda a parte os povos se mobilizam e a única esperança reside precisamente nessa mobilização. É urgente, para todos os que querem resistir eficazmente à lógica capitalista, trabalhar pela unificação destas lutas.

http://www.diagonalperiodico.net/Un-huracan-de-austeridad-se-cierne.ht
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[Crise financ] Stiglitz: “Os governos deveriam criar seus próprios bancos”

Economia| 29/06/2010 | Copyleft


http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16748&editoria_id=7



Stiglitz: “Os governos deveriam criar seus próprios bancos”
O Fundo Monetário Internacional e o setor financeiro estão repetindo velhos erros que já prejudicaram a vida de milhões de pessoas na Argentina, Indonésia, Coréia e Tailândia, entre outros países, denuncia o economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia. É o clássico erro daqueles que confundem a economia de uma família com a de uma nação. Se uma família não pode pagar suas dívidas, recomenda-se que gaste menos para que possa fazê-lo. Mas uma economia nacional, se corta gastos, provoca a queda da atividade econômica, ninguém investe, cai a arrecadação, aumenta o desemprego e termina-se por ficar sem dinheiro para pagar as dívidas.
“Nos Estados Unidos entregamos ao sistema financeiro 700 bilhões de dólares. Se tivéssemos investido apenas uma fração dessa quantidade na criação de um novo banco, feríamos financiado todos os empréstimos que eram necessários”, disse Joseph Stiglitz em declarações ao jornalIndependent na segunda-feira. Se os bancos não emprestam, os governos deveriam criar seus próprios bancos e encomendar-lhes essa tarefa, propôs o prêmio Nobel de Economia.

Na verdade, seria possível fazer isso com muito menos: “Tomemos 100 bilhões, alavanquemos essa quantidade por um fator de dez a um (atraindo fundos do setor privado) e obteremos uma capacidade creditícia de um bilhão de dólares, mais do que a economia real necessita”, explicou Stiglitz. O problema nos EUA é que o estímulo fiscal não foi o necessário: “Consistiu em boa medida em cortes de impostos e quando se deu dinheiro aos bancos, foi para aqueles que não deviam ter recebido”. “A conseqüência de tudo isso é que não se restabeleceu a atividade creditícia. É previsível que este ano se embarguem dois ou mais milhões de casas do que no ano passado”, advertiu o economista.

Por trás dos ataques dos mercados financeiros a Grécia, primeiro, e depois contra a Espanha, o consenso parecer ser o de que os governos devem economizar, critica Stiglitz, que compara a situação atual a dos Estados Unidos durante a presidência de Herbert Hoover. Os governos, como o britânico, não só se negam a estimular a economia, como também se dedicam a cortar gastos públicos, como fez Hoover em 1929, com a conseqüência de o “crack” de Wall Street degenerou na Grande Depressão.

“Hoover acreditava que, quando se entra em recessão, aumentam os déficits, pelo que optou pelos cortes, e isso é precisamente o que querem agora os estúpidos mercados financeiros que nos meteram no meio dos problemas que enfrentamos agora”, assinalou o prêmio Nobel. Segundo Stiglitz, é o clássico erro daqueles que confundem a economia de uma família com a de uma nação. “Se uma família não pode pagar suas dívidas, recomenda-se que gaste menos para que possa fazê-lo. Mas uma economia nacional, se corta gastos, provoca a queda da atividade econômica; ninguém investe, diminui a arrecadação, aumenta o desemprego e termina-se por ficar sem dinheiro para pagar as dívidas”, explicou.

“Há muitos experimentos que demonstram isso graças a Herbert Hoover e ao Fundo Monetário Internacional”, disse ainda Stiglitz. Ele lembrou que o FMI aplicou essas receitas errôneas na Coréia, Tailândia, Argentina, Indonésia e muitos outros países em desenvolvimento nos anos 80 e 90. “Sabemos o que ocorre. As economias vão se debilitar, os investimentos cairão e se produzirá uma terrível espiral descendente”, assinalou, lembrando o que ocorreu com o Japão que experimentou uma receita similar em 1997, quando estava em vias de recuperação e acabou metido em uma nova recessão.

A resposta, enfatizou, não é reduzir o gasto público, mas sim redirecioná-lo: “Pode-se cortar o dinheiro que se gasta na guerra do Afeganistão. Pode-ser cortar várias centenas de bilhões de dólares desperdiçados no setor militar. Podem se reduzir os subsídios ao petróleo. Há muitas coisas que podem ser cortadas. E é preciso aumentar o gasto em outras áreas como a pesquisa e o desenvolvimento, a infraestrutura e a educação, todas elas áreas nas quais o governo pode obter uma boa rentabilidade de seus investimentos”.

Ainda segundo o economista, não há tampouco nenhuma razão pela qual não se pode aumentar em cerca de 40% os impostos sobre os lucros especulativos do setor imobiliário, por exemplo. Esse tipo de especulação, concluiu, não beneficia a sociedade e a terra vai seguir aí, independentemente de que a gente especule ou não. Em troca disso, poderíamos baixar o ônus que pesa sobre outras atividades como pesquisa e desenvolvimento.

Tradução: Katarina Peixoto

[Crise financ] Paul Krugman alerta para sinais de uma terceira depressão -

Economia| 29/06/2010 | Copyleft 

Paul Krugman alerta para sinais de uma terceira depressão
Receio que estejamos nos primeiros estágios de uma terceira depressão. A probabilidade é que ela seja mais parecida com a Longa Depressão do que com a Grande Depressão. Mas o custo - para a economia mundial e para milhões de vidas será ainda assim, imenso. E essa terceira depressão será resultado de um fracasso das políticas econômicas. Em todo o mundo - mais recentemente na desanimadora reunião do G-20 - os governos estão obcecados com a inflação, enquanto que a grande ameaça é a deflação, recomendando cortes de gastos, ao passo que o verdadeiro problema são os gastos inadequados. O artigo é de Paul Krugman.
As recessões são comuns, mas as depressões são raras. Até onde eu sei, apenas dois períodos da história econômica foram chamados na sua época de "depressões": os anos de deflação e instabilidade após o Pânico de 1873 e os anos de desemprego em massa após a crise de 1929 a 1931.

Nem a Longa Depressão do século 19 nem a Grande Depressão do século 20 foram períodos de declínio ininterrupto - pelo contrário, ambas tiveram momentos em que a economia cresceu. Mas esses episódios de melhoria nunca foram suficientes para desfazer os danos do choque inicial e foram seguidos de recaídas.

Receio que estejamos nos primeiros estágios de uma terceira depressão. A probabilidade é que ela seja mais parecida com a Longa Depressão do que com a Grande Depressão. Mas o custo - para a economia mundial e, acima de tudo, para os milhões de vidas arruinadas pela falta de empregos - será ainda assim, imenso.

E essa terceira depressão será resultado de um fracasso das políticas econômicas. Em todo o mundo - mais recentemente na desanimadora reunião do G-20 no último final de semana - os governos estão obcecados com a inflação, enquanto que a grande ameaça é a deflação, recomendando cortes de gastos, ao passo que o verdadeiro problema são os gastos inadequados.

Em 2008 e 2009, parecia que havíamos aprendido com a história. Diferente de seus predecessores, que aumentaram as taxas de juros para enfrentar a crise financeira, os líderes atuais da Reserva Federal e do Banco Central Europeu cortaram radicalmente os juros e voltaram-se para os mercados de crédito. Diferente dos governos do passado, que tentaram equilibrar os orçamentos para enfrentar a economia em declínio, os governos de hoje permitiram que os déficits aumentassem. E melhores políticas ajudaram o mundo a evitar o colapso total: Pode-se dizer que recessão resultante da crise financeira terminou no verão passado.

Mas os historiadores nos dirão no futuro que esse não foi o fim da terceira depressão, da mesma forma que a melhora econômica em 1933 não foi o fim da Grande Depressão. Afinal de contas, o desemprego - especialmente o desemprego de longo prazo - mantém-se em níveis que seriam considerados catastróficos há alguns anos e não parecem estar a caminho do declínio. E tanto os Estados Unidos quando a Europa estão prestes a cair na armadilha deflacionária que atingiu o Japão.

Perante perspectivas tão sombrias, esperávamos que nossos legisladores se dessem conta de que ainda não fizeram o suficiente para promover a recuperação. Mas não: Nos últimos meses, observou-se a volta de um comportamento espantosamente ortodoxo com relação a empréstimos e orçamentos equilibrados.

Podemos observar uma volta mais evidente desse tipo de comportamento em discursos na Europa, onde oficiais parecem estar se inspirando em Herbert Hoover para compor sua retórica, incluindo a afirmação de que impostos mais altos e cortes de gastos irão de fato expandir a economia através da segurança comercial. Na prática, no entanto, os Estados Unidos não estão muito diferentes. A Reserva Federal parece saber dos riscos da deflação - mas não se propõe a fazer nada para mitigá-los. A administração Obama sabe dos perigos de uma austeridade fiscal prematura - mas, já que os republicanos e democratas conservadores se negam a autorizar um auxílio maior aos governos estaduais, essa austeridade é inevitável e se manifesta através de cortes de orçamento estadual e municipal.

Por que então esse tropeço político? Os conservadores normalmente citam os problemas da Grécia e outros países europeus para justificar suas ações. É verdade também que os investidores de ações passaram a preferir os governos com déficits incontroláveis. Mas não há provas de que a austeridade fiscal repentina em face a uma economia em depressão ofereça alguma garantia a investidores. Muito pelo contrário: A Grécia optou pela austeridade severa e teve como resultado um aumento ainda maior da sua instabilidade; a Irlanda impôs cortes ferozes nos gastos públicos e foi tratada pelos mercados como um risco maior do que a Espanha, que até então havia sido mais relutante em aceitar a solução proposta pelos conservadores.

É quase como se os mercados financeiros conseguissem entender o que os legisladores não conseguem: apesar de a responsabilidade fiscal de longo prazo ser importante, o corte repentino de gastos em uma depressão, que aumenta mais ainda essa depressão e precede a deflação, é também uma estratégia autodestrutiva.

Por isso eu acho que a Grécia não é a culpada, nem a preferência realista por trocar empregos por déficits. Na realidade, tudo isso se resume a um conservadorismo que pouco tem a ver com análises racionais e cujo maior dogma é impor sofrimento ao povo para mostrar liderança em momentos de crise.

E quem pagará o preço pelo triunfo desse conservadorismo? Dez milhões de trabalhadores desempregados, muitos deles, inclusive, que ficarão sem trabalho por anos ou até mesmo pelo resto da vida.

(*) Paul Krugman é economista, professor da Universidade de Princeton e colunista do The New York Times. Ganhou o prêmio Nobel de economia de 2008.

Tradução: Terra Magazine

Versão original do artigo de Krugman no New York Times.

Outros artigos de Paul Krugman

A página pessoal do autor

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Se todas as cidades fossem assim…


Ai se todas as cidades fossem assim…

26/06/2010

Hora de rush da manhã na quarta maior cidade dos Países Baixos. Ruas tem essa aparência 
quando 33% de todas as viagens são feitas por bicicleta!

Esta é uma manhã normal em abril de 2010, cerca de 8h30. Tempo original foi de 8 minutos, 

que foram comprimidos em dois minutos, então tudo é 4 vezes mais rápido do que na realidade. 
O som é original.

Este é um dos mais movimentados cruzamentos em Utrecht uma cidade com uma população 

de 300.000. Nada menos que 18 mil bicicletas e 2.500 ônibus passam por aqui todos os dias.


E, ainda, Google Street View a perdeu. Porque o tráfego motorizado privado é limitado aqui.

Estes ciclistas atravessam uma faixa de ônibus de mão única (também utilizado por táxis e 

veículos municipais), dois trilhos de trens leves e, em seguida, uma rua de sentido único que 
pode ser usado por veículos particulares.
Atrás da câmera é uma estrada de ferro (você pode ouvir os sons de ranger dos trens de 

passagem) e a principal estação ferroviária é muito próxima também. Uma parte das 
bicicletas que passam são de aluguel, da estação ferroviária, e muitos dos ciclistas vieram 
de trem na primeira parte de seu trajeto.
Para aqueles que notarem a ausência total de capacetes, neste vídeo, considerar estes 

resultados de um estudo da E.U.:

"Andar de bicicleta na Holanda é muito mais seguro do que no E.U.A.. A Holanda tem a 

menor taxa de acidentes não fatais, bem como a menor taxa de mortalidade, enquanto o 
E.U.A. tem a maior taxa de acidentes não fatais, assim como a maior taxa de fatalidade. 


Com efeito, a taxa de acidentes não-fatais para o E.U.A. é aproximadamente 30 vezes 
maior do que para os Países Baixos.

Ferimento taxa por milhão de km pedalados: E.U.A. 37,5 / NL 1,4 



Taxa de mortalidade por 100 milhões de km pedalados: E.U.A. 5,8 / NL 1.1 " 



No YouTube:


Morning rush hour in the 4th largest city in the Netherlands. Streets look like this when 33% of ALL trips are made by bicycle!

This is an ordinary Wednesday morning in April 2010 at around 8.30 am. Original time was 8 minutes that were compressed into 2 minutes, so everything is 4 times faster than in reality. The sound is original.

This is one of the busiest junctions in Utrecht a city with a population of 300,000. No less than 18,000 bicycles and 2,500 buses pass here every day. And yet Google Street View missed it. Because private motorized traffic is restricted here.

These cyclists cross a one way bus lane (also used by taxis and municipal vehicles), two light rail tracks and then a one way street that can be used by private vehicles.

Behind the camera is a railway (you can hear the squeaking sounds of the trains passing) and the main railway station is very close too. A number of rental bikes from the station pass and many of the cyclists will have come by train for the first part of their commute.

For those who frown upon the total absence of bike helmets in this video, consider these findings from a US study:

"Cycling in the Netherlands is much safer than in the USA. The Netherlands has the lowest non-fatal injury rate as well as the lowest fatality rate, while the USA has the highest non-fatal injury rate as well as the highest fatality rate. Indeed, the non-fatal injury rate for the USA is about 30 times higher than for the Netherlands.

Injury rate per million km cycled: USA 37.5; NL 1.4
Fatality rate per 100 million km cycled: USA 5.8; NL 1.1"

From: Pucher, John and Buehler, Ralph (2008) 'Making Cycling Irresistible: Lessons from The Netherlands, Denmark and Germany'.
http://policy.rutgers.edu/faculty/puc...

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Como visto em: wykop.pl
-

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Especial IT Web 10 anos: a próxima década da internet

Especial IT Web 10 anos: a próxima década da internet
por IT Web
09/04/2010

http://www.itweb.com.br/noticias/index.asp?cod=66939
Lançado em 18 de abril do ano 2000, o portal completa uma década. Reportagens publicadas durante todo o mês compõem série de comemoração

Há dez anos, nascia o portal de notícias de tecnologia e telecomunicações IT Web. O lançamento teve show do Paralamas do Sucesso para 3,5 mil convidados em uma casa de eventos na cidade de São Paulo. Para comemorar a data, diversas reportagens serão publicadas ao longo do mês de abril com objetivo de, mais que fazer uma retrospectiva, analisar as mudanças pelas quais o mundo e os negócios passaram, além de apontar tendências que podem trilhar a próxima década da internet. Acompanhe o especial!
Skype: união com telco fixa e móvel é vantajosa - Executivo da companhia fala sobre evolução do produto, comenta mundo corporativo e aborda importância do mundo móvel
[IT Web TV]  Lessa comenta desafios trazidos pela geração Y CIO do Banco Matone, Lessa explica como lidar com os integrantes dessa geração.
Entrevista: Andrew McAfee, do MIT e criador do conceito Enterprise 2.0Especialista aborda dificuldades e desafios para promover mudanças no ambiente de trabalho, e aponta como a geração Y pode influenciar nisto
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Fatia da internet cresce no bolo publicitário em detrimento das mídias tradicionais - Nos EUA, a verba publicitária online supera a da mídia impressa. No Brasil, está chegando perto do rádio 
[IT Web TV] CIOs falam sobre o impacto da web nas empresas No último dia do IT Forum 2010, CIOs comentaram impacto da web nos negócios das empresas
Desafios da próxima década para a segurança da informação - veja as considerações do blogueiro Edison Fontes 
Conheça as ondas tecnológicas da internet que influenciarão os rumos de TI - Redes sociais, computação em nuvem e software como serviço determinam tendências fortes para os próximos cinco anos
[Galeria de imagens] Veja fotos da festa de lançamento

Don Tapscott debate Web 3.0 e o papel da geração Y para promover mudanças - Os jovens de hoje vão substituir os atuais chefes. Isto vai transformar as empresas internamento e vai criar novo modelo de relacionamento
Dispositivos e aplicativos móveis mudam a forma de interagir com a webAo analisar a evolução da internet móvel, especialistas projetam um futuro mais convergente
Navita foca BlackBerry, mas olha no usuário final - Além de mobilizar companhias, fabricante produziu um tradutor e prepara aplicativo para Copa do Mundo
Microsoft aposta no Windows Phone 7 para ganhar market share -Fabricante que sofreu na esfera móvel com versões anteriores do sistema promete virada com nova plataforma
União de Meego e Atom representa força móvel para Intel - Companhia, que ficou ausente deste cenário, aponta para grandes investimentos para acompanhar tendência
Qualcomm investe em plataforma móvel mais popular - Companhia conta com processador ágil e aposta em um sistema operacional simples para popularizar aplicações
RIM investe em superaplicativos móveis - Conceito da fabricante da linha BlackBerry consiste em envolver e integrar diversas funcionalidades disponíveis na plataforma
Virtualização leva tudo para iPhone e iPad - Aplicativo da Citrix permite, por exemplo, assistir vídeo em Flash armazenado no servidor da companhia mesmo sem o suporte da Apple
Itaú aposta em aplicativos de olho em funcionalidades - Diferente de sites tradicionais, afirma superintendente do banco, aplicações aproveitam tudo que as plataformas oferecem
[IT Web TV] IT Web 10 anos: conheça o conceito de cloud school - Nivaldo Marcusso, superintendente da Fundacão Bradesco, explica como a internet mexeu com a estrutura de ensino. O executivo fala de web 2.0, perfil do novo professor e aborda o conceito de cloud school
A internet virou commodity. Sobreviva se for capaz A cada empresa que adota novos modelos comerciais fica claro que qualquer um pode estar rede e a diferenciação deixa de estar na tecnologia 
Evolução da Web 2.0 decreta fim de algumas profissões -  nquanto morrem funções, outras nascem, numa clara demonstração do estímulo de novas tarefas
A internet das coisas abre nova fronteira para TI - Perspectiva de que trilhões de objetos do cotidiano estarão conectados à web traz desafios e oportunidades ao universo tecnológico
As três premissas da internet das coisas - A infraestrutura básica na visão de Frederick van Amstel, pesquisador do instituto Faber Ludens
O futuro das redes sociais Mania de trocar informações e se relacionar na internet em sites como Twitter, Orkut e Facebook é apenas o começo de uma transformação que pode mudar o modo como vemos o mundo. Mas essa evolução pode ser limitada pela perda total da privacidade 
O alcance prematuro da maioridade Em artigo, a idealizadora do portal Stela Lachtermacher reflete sobre a criação, o desenvolvimento e o futuro dele

O ano 2000 - 
O estouro da bolha da internet é tido como divisor de águas, com a sobrevivência apenas dos mais fortes
[Galeria de imagens] Retrospectiva ano a ano - Abrindo o raio de uma década, fazemos um balanço dos fatos mais marcantes do período 
Blogueiro Edison Fontes faz um balanço dos acontecimentos dos últimos dez anos.

CBN: É preciso ficar atento à dependência ao capital especulativo / Valor: Coutinho alerta para necessidade de conter déficit em conta corrente / Estadão: O investimento direto não é mais aquele / ...

Antes de ler as matérias copiadas abaixo, peço que me acompanhem em um exercício financeiro para contextualizar a leitura:
Obs.: no exercício, para simplificar os cálculos, estou usando as taxas de juros básicas de cada região e do Brasil (SELIC) e não considerando as conversões cambiais envolvidas, que podem reduzir ou aumentar os valores repatriados aos Investidores Estrangeiros
3 Investidores Estrangeiros decidem aplicar dinheiro no Brasil, no Mercado Financeiro:
1 Alemão (pessoa ou empresa) toma emprestado R$1.000,00 com juros de Banco Europeu de  1% / ano
Traz para o Brasil e aplica com juros SELIC de 11% / ano
Depois de 1 ano:
·         Retira R$1.110,00  do Brasil
·         Paga  R$1.010,00  para o Banco Europeu
·         Tem um lucro de:  R$90,00 
1 Norte-americano  (pessoa ou empresa) toma emprestado R$1.000,00 com juros de Banco de Norte-americano de  0% / ano
Traz para o Brasil e aplica com juros SELIC de 11% / ano
Depois de 1 ano:
·         Retira R$  R$1.110,00  do Brasil
·         Paga  R$ R$1.000,00 para o Banco Norte-americano
·         Tem um lucro de:  R$110,00    
1 Japonês  (pessoa ou empresa) toma emprestado R$1.000,00 com juros de Banco Japonês de 0,1%  / ano
Traz para o Brasil e aplica com juros SELIC de 11% / ano
Depois de 1 ano:
·         Retira R$1110,00  do Brasil
·         Paga  R$1001,00  para o Banco Japonês
·         Tem um lucro de:  R$ 109,00
Enquanto isto no Brasil:
  • No começo do ano em analise entraram:  R$3.000,00  de Investimento Direto Estrangeiro (IDE)
  • No final do ano considerado saíram: R$3.330,00 de Remessas de Capital e Lucros
Prejuízo para o Brasil de: R$330,00  
        
Este é o mecanismo de Arbitragem de Taxas de Juros entre países comentado em reportagem abaixo.
A Dívida Pública do Brasil cresce ou é usado dinheiro do Orçamento Público para proporcionar este lucro ao Investidor Estrangeiro (Orçamento Público: aquele que deveria proporcionar Aposentadoria, Educação, Investimentos em Infra estrutura, Saúde, Segurança, etc. para o povo brasileiro) !!!!
Isto é que é Negócio da China !!!!
        Pensemos agora em milhões, ou bilhões, de Dólares, Euros, Iens, etc. fazendo este passeio pelo Mercado Financeiro do Brasil.
        Preocupante: não me parece característica de uma economia sustentável. Principalmente quando metade do orçamento está sendo gasto com a Dívida Pública  (http://74.53.188.162/~cfemeao/orcamento/index.php?option=com_content&task=view&id=148&Itemid=30)

+Informações:

O déficit da União está no orçamento fiscal e não no da seguridade social - Fusão dos Fiscos  



Para ver o primeiro artigo desta série, clique aqui.   

Para ver o segundo artigo desta série, clique aqui.   

Para ver o terceiro artigo desta série, clique aqui.    

Para ver o quarto artigo desta série, clique aqui.      

Para ver o quinto artigo desta série, clique aqui.      

Para ver o sexto artigo desta série, clique aqui.      

Para ver o sétimo artigo desta série, clique aqui.    

Para ver o oitavo artigo desta série, clique aqui.      

Para ver o nono artigo desta série, clique aqui.       

Trecho destacado do primeiro artigo desta série 
(...)
Oficialmente, o governo gastou até 2008 30,57% do orçamento com juros e amortizações da dívida pública (R$ 282 bilhões). Quando computados os recursos emitidos para o refinanciamento das dívidas este percentual sobe para 47%. Abaixo, um gráfico que mostra o drama da divisão do orçamento em 2008.

Vale ressaltar que no último ano do governo FHC, o percentual do orçamento gasto com o pagamento de juros, amortizações e rolagem da dívida foi de 45,16%. Ou seja, dois pontos percentuais inferior ao que o governo atual gastou já em 2008, apesar do cenário econômico mundial favorável que o Governo do PT pegou.
Traduzindo o “economês”, o refinanciamento da dívida significa renovar as dívidas vencidas com novos prazos e juros, naturalmente. Em outras palavras, significa jogar a responsabilidade para o próximo governo. Tal mecanismo tem se repetido ao longo das últimas décadas com as dívidas externa e interna. A lógica dos governos é a seguinte: não importa o valor da dívida, o que importa é seu percentual em relação ao Produto Interno Bruto – PIB (a soma de todas as riquezas produzidas pelo país).  Por este ângulo, o governo Lula se gaba hoje de ter uma dívida interna correspondente a 44% do PIB, valor inferior ao pico de 1998, quando este percentual chegou a 56% no auge da seqüencia de crises internacionais do segundo governo FHC.
Por esta lógica, o governo atual teria ainda 12% de margem para se endividar, pois o parâmetro é sempre o governo FHC. Ou seja, não importa se a dívida da época era de 645 bilhões e hoje este valor mais que dobrou. O que importa é capacidade do governo em “honrar seus compromissos”, mesmo que estes consumam metade do nosso orçamento.
É com este pensamento que o Governo programa a emissão de títulos das dívidas (novos empréstimos). A antecipação do lançamento dos títulos que serviram para “pagar” a dívida do FMI é apenas um exemplo de como o governo programa seus orçamentos. Em outras palavras, a “emissão de títulos” tornou-se uma das fontes de recursos do Governo, principalmente nos períodos pré-eleitorais.
(...)

Vejam a evolução em apenas 1 ano!

Interessante fazer uma analise de quem perdeu e de quem ganhou participação no Orçamento Publico, entre 2008 e 2009. É muito esclarecedor!!!

(AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA  http://www.divida-auditoriacidada.org.br/)
































A Evolução da Dívida Pública
http://ecen.com/content/eee6/divipub2.htm



Notícias que motivaram a reflexão:

NA CBN

Aumentou muito a dependência do Brasil ao capital especulativo para fechar o déficit em transações correntes que, em maio, ficou em US$ 2 bilhões, o segundo maior depois de maio de 2001, no auge do apagão. Isso significa que o país precisa financiá-lo com a entrada de investimento. Ontem, o BC divulgou esses dados e reduziu em 15,56% a previsão de entrada de investimento produtivo, uma diminuição de US$ 7 bilhões. O mercado, no entanto, prevê queda maior.
Mas o que produziu essa baixa num momento em que todos estão otimistas com o país? A Europa, que é importante demais para a economia brasileira nas áreas de investimento e comércio, está em crise. As empresas estrangeiras estão investindo menos e querendo mais remessas de lucros e dividendos para financiar as suas matrizes.
Sem a entrada do capital especulativo, que vem, por exemplo, por causa dos juros mais altos do que em outros países, o déficit não seria financiado. Esse não é um grande problema, como foi no passado, porque o Brasil tem reservas bem altas e a situação das contas está mais tranquila, mas não é uma coisa muito boa. É preciso acompanhar esses números.
Ouça aqui o comentário na CBN

Contraponto:
Em suma, como observa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), “os fluxos de natureza estritamente financeira responderam por 81,6% deste ingresso. A análise desagregada desses fluxos revela que seus principais componentes foram as aplicações dos investidores estrangeiros em ações e renda fixa no país e o crédito comercial” (IEDI, “IDE industrial ainda não reagiu”, 22/04/2010).
(..)
Daí porque as reservas monetárias não são um colchão em que possamos repousar. Aliás, não é possível basear a segurança econômica do país nas reservas em dólar. Primeiro, porque elas são finitas. Segundo, porque são compostas fundamentalmente não pelos saldos comerciais, mas por dólares que o BC troca por reais para os especuladores externos – e já sabemos o que aconteceu em outros países com reservas desse tipo. Por consequência, terceiro: manter a reserva atual (ou aumentá-la) significa manter alta a especulação, portanto, os juros altos e a sobrevalorização do câmbio, o que é incompatível com um desenvolvimento à altura do tamanho e dos recursos do país.
Mas, ainda que o déficit fosse coberto com o IDE, e ainda que ele suba tanto que chegue aos US$ 45 bilhões vaticinados pelo BC para este ano, isso significaria, em pouco tempo, somente mais remessas de lucros, a desnacionalização de mais uma parte da economia e o endividamento do país. Que mérito teria, então, fechar as contas do dia à custa de sacrificar os objetivos estratégicos nacionais?
Os trechos acima foram extraídos do seguinte artigo, onde estão explicados:
Déficit nas contas externas cresce e BC quer mais juros                    

Escrito por Carlos Lopes/Hora do Povo   
27/04/2010
Impulsionado por remessas e importações, déficit atingiu US$ 12,145 bilhões no primeiro trimestre 
Os resultados das contas externas em março e no primeiro trimestre foram ruins. Infelizmente, não é possível obter tranquilidade apenas com a comparação em relação a épocas em que a nossa situação era pior. Realmente, temos de agradecer ao Todo-Poderoso e ao povo brasileiro por não termos um tucano na Presidência – senão, estaríamos falando de catástrofe, em vez de resultado ruim. Mas isso não basta.
Dilma Rousseff tem toda a razão em que “temos de tomar medidas para reduzir a nossa necessidade de financiamento externo” (Valor Econômico, 23/04/2010). Aliás, o problema nas contas externas revela, exatamente, que no estágio em que o governo Lula colocou o país, esse terá que ser o próximo passo para garantir o crescimento. Vejamos os números:
BALANÇA COMERCIAL
Em março o comércio exterior teve apenas um pequeno superávit (US$ 668 milhões). E não foi porque exportamos pouco. Pelo contrário: em um mês as exportações somaram US$ 15,727 bilhões. Porém, as importações montaram a US$ 15,059 bilhões.
Da mesma forma, no trimestre o saldo comercial foi apenas US$ 892 milhões, apesar de termos exportado, no mesmo período, US$ 39,230 bilhões – mas as importações chegaram a US$ 38,337 bilhões.
As importações que mais cresceram (+41,5%) foram as de bens intermediários e matéria-prima, ou seja,insumos para a indústria, que foram quase metade (48,2%) delas, e o setor que mais importou foi o de material elétrico e de comunicações, com um déficit de US$ 3,6 bilhões – um aumento, no déficit, de 75,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Assim, com a indústria comprando fora do país - inclusive o que antes de 1995 (isto é, antes do governo Fernando Henrique) era comprado dentro do país - o pequeno superávit foi devido totalmente às exportações agropecuárias e de matérias-primas minerais. A indústria de transformação (não-extrativista) importou US$ 7,7 bilhões a mais do que exportou - um aumento de 89% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
O problema, portanto, não está nas exportações. Não há esforço exportador, incentivos ou isenções que aumentem substancialmente o saldo comercial com o exterior, quando há dentro do país centenas de multinacionais que importam mais do que exportam, além de um câmbio sobrevalorizado que impele empresas brasileiras a importar seus insumos, ao invés de comprá-los no mercado interno.
O principal mecanismo para sobrevalorizar o real - o que torna as importações artificialmente mais baratas em relação aos produtos aqui fabricados - são os juros altos, atraindo dólares especulativos para dentro do país. No primeiro trimestre do ano passado, o preço médio de um dólar era R$ 2,30. No primeiro trimestre deste ano, desceu para R$ 1,80. O resultado é que, quando crescemos, as importações disparam e – junto com outros fatores - levam a uma crise nas contas externas. A solução a la Meirelles é frear o crescimento com mais um aumento de juros – que, por sua vez, leva a uma maior sobrevalorização do real, fazendo com que as importações fiquem ainda mais baratas.
Um círculo vicioso perverso e pervertido - se nos permitem os leitores: coisa de maluco. Mas tem sido esse o principal obstáculo à aceleração do crescimento proposta pelo presidente Lula. Agora mesmo o sr. Meirelles propala mais um aumento de juros.
Não vamos resolver o problema das contas externas – exceto muito provisoriamente – se não quebrarmos esse círculo de juros altos/real hiper valorizado, se não substituirmos insumos importados por insumos fabricados no país. Evidentemente, não serão as filiais de multinacionais que farão tal mudança. Temos centenas delas aqui – e seu efeito é aumentar as importações e remeter lucros para o exterior – ou seja, colocar em crise as contas externas.
É um truísmo dizer que um país somente pode se desenvolver sobre a base constituída pelas empresas nacionais – prioritariamente as não-monopolistas e as estatais. Mas é necessário repetir essa obviedade. Não será com o BNDES repartindo recursos do povo brasileiro entre multinacionais, testas-de-ferro de multinacionais e monopólios privados internos que resolveremos o problema das contas externas.
REMESSAS E ENTRADAS
As remessas para o exterior (serviços + rendas) somaram, em março, US$ 6,015 bilhões – e, no trimestre, US$ 13,823 bilhões, o que é mais do que o dobro do “investimento direto estrangeiro” (IDE) que entrou no mesmo período (US$ 5,656 bilhões).
Certamente, dirão os advogados do IDE, moderno é ter as empresas do país tomadas pelo capital estrangeiro. Infelizmente, além do importacionismo, a consequência é que a enxurrada de “investimento direto estrangeiro” causa uma enxurrada de remessas de lucros para o exterior, e, portanto, o desequilíbrio das contas externas – ou, o que é a mesma coisa, o sangramento de recursos do país.
Este é o significado do “déficit nas transações correntes”, projetado, pelo Banco Central, para US$ 49 bilhões este ano. Nos primeiros três meses, o déficit foi US$ 12,145 bilhões. Para que o leitor tenha uma ideia: em três meses, o deficit foi metade daquele do ano inteiro de 2009.
Por aqui se vê como eram ilusórias as esperanças de que a entrada de IDE cobrisse o rombo deixado na conta de transações correntes pelas importações e pelo próprio IDE - na medida em que as empresas, antes brasileiras, agora passam a remeter lucros para suas matrizes no exterior. O “investimento direto estrangeiro” (IDE) não faz parte da conta de transações correntes - mas seu inevitável corolário, a remessa de lucros, faz parte dela. Portanto, o IDE constitui uma das causas do problema nas contas externas – jamais uma solução para esses problemas.
Como se não bastasse essa troca do remédio pela doença, a entrada de IDE está caindo: em março, do total de dinheiro externo que entrou no país, apenas 18,4% (US$ 2,017 bilhões) foram “investimentos diretos”, enquanto 33,2% (US$ 3,649 bilhões) foram “investimentos em carteira” (IEC), isto é, dinheiro meramente especulativo, e nada menos do que 48,4% (US$ 5,313 bilhões) foram empréstimos bancários (OIE - “outros investimentos estrangeiros”).
Em suma, como observa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), “os fluxos de natureza estritamente financeira responderam por 81,6% deste ingresso. A análise desagregada desses fluxos revela que seus principais componentes foram as aplicações dos investidores estrangeiros em ações e renda fixa no país e o crédito comercial” (IEDI, “IDE industrial ainda não reagiu”, 22/04/2010).
Março não é um caso atípico. No trimestre, o IDE foi 20,9% do dinheiro externo, o IEC foi 34,5% e os “outros investimentos estrangeiros” (crédito bancário), 44,6%. Ou seja, estamos fechando a balança de pagamentos com “fluxos de natureza estritamente financeira”.
Daí porque as reservas monetárias não são um colchão em que possamos repousar. Aliás, não é possível basear a segurança econômica do país nas reservas em dólar. Primeiro, porque elas são finitas. Segundo, porque são compostas fundamentalmente não pelos saldos comerciais, mas por dólares que o BC troca por reais para os especuladores externos – e já sabemos o que aconteceu em outros países com reservas desse tipo. Por consequência, terceiro: manter a reserva atual (ou aumentá-la) significa manter alta a especulação, portanto, os juros altos e a sobrevalorização do câmbio, o que é incompatível com um desenvolvimento à altura do tamanho e dos recursos do país.
Mas, ainda que o déficit fosse coberto com o IDE, e ainda que ele suba tanto que chegue aos US$ 45 bilhões vaticinados pelo BC para este ano, isso significaria, em pouco tempo, somente mais remessas de lucros, a desnacionalização de mais uma parte da economia e o endividamento do país. Que mérito teria, então, fechar as contas do dia à custa de sacrificar os objetivos estratégicos nacionais?

Coutinho alerta para necessidade de conter déficit em conta corrente

Rafael Rosas | Valor
24/06/2010 15:01

RIO - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou que o maior desafio para o Brasil será manter o crescimento sustentável sem causar um aumento excessivo do déficit em conta corrente. 

Coutinho lembrou que, no início da década de 1980, o país, com grande déficit em conta corrente, viu uma parada súbita do crédito internacional usado para compensar o déficit, "o que custou 25 anos (de baixo crescimento econômico)".

"Agora estamos com tudo arrumado e não podemos deixar o déficit em conta corrente expandir enormemente", frisou Coutinho. "Precisamos também de uma transição para o financiamento doméstico de longo prazo, que sempre foi o calcanhar de Aquiles do Brasil", acrescentou.


O executivo ponderou que os 25 anos de baixo crescimento econômico incutiu nas empresas brasileiras uma mentalidade conservadora, com poucos investimentos em inovação e pesquisa e desenvolvimento (P & D).

"Agora temos a esperança no desenvolvimento do setor privado pela inovação", disse Coutinho, destacando as decisões de GE e IBM de construir laboratórios no país e garantindo que, por parte do BNDES não vão faltar recursos para aplicação em inovação.

Coutinho, que participou do debate "As perspectivas e os desafios do desenvolvimento", na sede do banco, lembrou o convênio com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para aplicação de R$ 1,5 bilhão no desenvolvimento do etanol de segunda geração, como exemplo dos recursos disponíveis para investimento em P & D.

(Rafael Rosas | Valor)



José Paulo Kupfer

O investimento direto não é mais aquele

24 de junho de 2010 | 9h45
José Paulo Kupfer
Causou um certo rebuliço a informação de que o Banco Central reduziu em 15% sua projeção para o montante de investimentos estrangeiros diretos (IED) em 2010. Dos US$ 45 bilhões antes previstos, o BC espera agora ingressos de US$ 38 bilhões.
Defensores do câmbio valorizado engoliram em seco diante da possível perda de seu melhor argumento para a manutenção de juros básicos altos. “Os déficits externos não preocupam porque serão tranquilamente cobertos pelo ingresso de investimento direto”, diziam, a cada nova inflexão negativa nas contas externas. Agora, com as indicações de que o IED não vai cobrir o déficit, alguns fingem que a história não é com eles e alardeiam, com ares de denúncia, um aumento da dependência do País ao capital especulativo.
Essa não deixa de ser uma preocupação vazia. Afinal, o IED líquido cobre cada vez menos os déficits externos. IED líquido é aquele que resulta da diferença entre os capitais que entraram e os que saíram. O argumento dos que defendem a política monetária praticada pelo governo, ao considerar apenas o fluxo de entrada de recursos externos e carimbá-los com desejáveis por seu suposto caráter produtivo e não exigível, é uma tortuosa rua de mão única, repleta de buracos conceituais.
Ficar de olho apenas no ingresso de investimentos estrangeiros “produtivos” é lançar um olhar míope sobre os mecanismos de fechamento das contas externas. Visto que os ingressos de recursos não são feitos a fundo perdido ou a guisa de doação, eles geram passivos – exigências de ressarcimento no tempo. Dependendo do prazo de reembolso, nem mesmo se pode garantir que o IED “produtivo” seja produtivo e que seu caráter contábil seja, de fato,  não exigível.
Olhar o ingresso de recursos externos sem olhar as saídas é ignorância ou má-fé – quem sabe as duas coisas. E como estão as saídas? Aqui recorro aos dados do balanço de pagamentos, analisados pelo economista e consultor Silvio Figer, que acompanha o movimento das remessas de lucros e juros com a mesma lente que observa o ingresso de IED.
No primeiro quadrimestre deste ano, conforme artigo publicado por Figer, no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, em 14 de junho, entrou de capital estrangeiro, entre investimentos em participação no capital de empresas e empréstimos inter-companhias, um total de US$ 7,88 bilhões. E saíram… US$ 6,9 bilhões. O saldo positivo entre o que entrou e o que saiu se resumiu a modestos US$ 900 milhões – pouco acima de 10% do volume ingressado.
Se tal saldo se repetisse pelos outros dois quadrimestres do ano, o total líquido de investimento estrangeiro direto se resumiria a menos de 0,2% do PIB. Em relação ao déficit em contas correntes projetado para o ano, equivaleria a menos de 6%. Seria uma novidade embalada na crise européia e, portanto, não estrutural? A resposta, infelizmente, é não.
Entre 2003 e 2007, o volume de remessas de lucros equivalia, em média, a 50% do total de IED destinado a participações de capital, com um pico de 80,5%, em 2006. Em 2008 e 2009, com a crise, o total de remessas subiu para o equivalente a 90% do IED ingressado. E está mantendo o padrão em 2010.
Figer verificou que, nessas proporções, entre 2003 e 2007, as remessas anulavam os ingressos de capitais externos “produtivos” a cada dois anos. Depois da crise, o prazo encurtou para pouco mais de um ano. A conclusão do economista, diante dos dados, é a de que esse comportamento, ao contrário da velha crença, não caracteriza um movimento de investimento produtivo.
Mesmo não esquecendo que as remessas derivam do estoque de IED e os ingressos se referem a um período determinado, em geral o ano civil, a aceleração no movimento de retorno é um indicativo de  que se está diante de aplicações que, pelo menos em parte, se destinam à geração de lucros financeiros. O volume das remessas e o prazo curto em que elas anulam os investimentos são típicos de operações de arbitragem de juros, às quais se acrescenta um eventual ganho cambial pela valorização do real.
Há, no caso dos investimentos diretos, uma confusão conceitual e uma distorção contábil. O BC classifica os capitais ingressados como deve classificar, pelos destinatários: a indústria A, a rede varejista B, o banco C. Mas daí ao que a tesouraria das empresas faz com o dinheiro, o que não é acompanhado pelo BC ou quem quer seja, vai uma longa distância.
Para encurtar essa história, os investimentos diretos podem, é claro, ser destinados à produção. Mas também podem ter outros destinos e outros objetivos, inclusive os meramente especulativos.  O que parece ser cada vez mais o caso.

Atualizado às 17h00

22/6/2010
Déficit em conta corrente do Brasil bate em US$ 19 bilhões
Comércio Exterior

O déficit em transações correntes, que é o registro das operações de compra e venda de mercadorias e serviços do Brasil com o exterior, chegou a US$ 18,748 bilhões, de janeiro a maio deste ano. 

O resultado negativo é maior do que o registrado no mesmo período de 2009 (US$ 6,602 bilhões). Os dados foram divulgados pelo Banco Central (BC).

Somente em maio, o déficit em transações correntes chegou a US$ 2,020 bilhões, contra US$ 1,770 bilhão registrado no mesmo mês de 2009. O resultado do mês passado ficou abaixo do estimado pelo BC (US$ 2,7 bilhões).

Toda vez que o país gasta mais do que recebe com as vendas, é preciso financiar o saldo negativo por meio de empréstimos ou de investimentos externos. De janeiro a maio, o investimento estrangeiro direto (IED), recursos que são aplicados em empresas no Brasil, ficou em US$ 11,414 bilhões. Somente em maio, o IED chegou a US$ 3,534 bilhões.

Outra forma de investimento é aquele direcionado para ações e títulos de renda fixa. De janeiro a maio, o investimento em carteira registrou ingresso líquido (descontada a saída) de US$ 19,762 bilhões. No mês passado, esse valor chegou a US$ 3,671 bilhões.

Por Agência Brasil


O Brasil precisa de poupança para crescer?

Desde que foi divulgado o resultado do PIB no 1º Trimestre [alta de 2,7% contra o 4º trimestre de 2009] tem sido publicado nos cadernos de economia uma série de matérias sobre a sustentabilidade do atual ciclo de crescimento econômico. De maneira geral, existiriam dois tipos de limitações recorrentes: i) um problema de oferta, sintetizado no aumento de preços; ii) um problema de falta de poupança, expresso no aumento do déficit em conta corrente. Aqui, me concentro no segundo, dado que o primeiro é tema recorrente neste espaço.
Há uma tese em economia, sustentada desde que a primeira grande obra nesse campo do conhecimento foi publicada [A Riqueza das Nações - Investigação sobre sua natureza e suas causas, Adam Smith, 1776], de que o crescimento necessita de poupança. Isto porque, para que o investimento em máquinas e equipamentos [denominada nas Contas Nacionais como Formação Bruta de Capital Fixo] possa existir é preciso que ele seja financiado. Assim, a existência de poupança prévia para financiar o aumento do estoque de capital seria condição necessária para que uma economia alcançe taxas mais robustas de crescimento econômico.
Dado isto, a taxa de investimento no Brasil é baixa em relação ao PIB porque igualmente é baixa a taxa de poupança – atualmente esta está em 15% [do PIB] e aquela em 18%. Para dar robustez ao argumento, geralmente o jornalista [ou mesmo economista] cita a emergente China, com seus impressionantes 50% de taxa de poupança e 40% de taxa de investimento em relação ao PIB. Por fim, cita-se o recorrente fato de que a falta de poupança doméstica [privada mais pública] é a a causa de termos sempre um aumento do déficit em conta corrente [que é em termos de contas nacionais igual ao uso de poupança externa]. Somente para esse ano as projeções estão em US$ 50 bilhões de déficit.
O argumento é claro, portanto, em defender o aumento da poupança, de modo a financiar o investimento, evitando o aumento do déficit em conta-corrente – que seria insustentável no médio prazo. Para que isso ocorra, é preciso que a) haja uma reforma na previdência, de modo a criar incentivos para que os brasileiros poupem mais; b) o governo reduza seus gastos correntes, aumentando a poupança pública. Feito isto, ai sim, poderíamos sustentar o atual ciclo de crescimento econômico.
A teoria alternativa ataca justamente a idéia da necessidade de poupança prévia para financiar o aumento no estoque de capital. Ela é baseada na obra de John Maynard Keynes, que em sua Teoria Geral [1936] provou que a poupança é um resíduo dentro do sistema econômico – ela é determinada ex-post. Não existiria, portanto, uma decisão autônoma sobre a poupança. Em economias de mercado, onde são feitas milhares de transações comerciais [onde uma compra corresponde a uma venda], a única decisão autônoma é a decisão de gastar, de comprar um bem ou serviço. O empresário não possui controle sobre o que vende, ele não sabe se de fato irá vender o que produziu. Se assim fosse [como previa a Lei de Say] não poderia haver nenhuma crise econômica, já que todos os bens e serviços produzidos em uma economia seriam vendidos. Não há, portanto, incerteza nesse tipo de raciocínio.
Sendo a decisão de gastar a única decisão realmente autônoma, como ela pode ser definida? Keynes divide o gasto [ou despesa] agregado de uma economia em dois tipos: consumo e investimento. O consumo seria função basicamente da renda do indivíduo [atualmente não apenas da renda, mas muito consideravelmente do crédito] enquanto o investimento seria função do custo representado por tomar empréstimo [as taxas de juros] e apenas indiretamente da renda corrente.
Nesse contexto, sendo o consumo função da renda corrente, há de se ter um raciocínio circular quando queremos investigar as causas do aumento do PIB [e, portanto, da renda agregada] dos países. Tendo isso em vista, Keynes se concentra no investimento corrente como propulsor do crescimento econômico. No curto prazo, o fluxo de investimento em máquinas e equipamentos é um componente do gasto agregado, já no médio e longo prazos é também componente da oferta, pois faz aumentar a capacidade produtiva. Estaria bem, portanto, a economia que conseguisse fazer com que os empresários [dominados pela incerteza da economia e dotados de expectativas sobre o futuro] aumentassem os seus investimentos, apostando que seus produtos encontrassem um feliz comprador no futuro.
Sendo o investimento o propulsor [vividamente autônomo] do crescimento, como financiá-lo? Keynes supõe, como dito, que a poupança é um mero resíduo do processo produtivo, sendo determinada apenas ex-post. Então, como o empresário financia a ampliação da sua planta? Ele tem três alternativas gerais para se financiar: o uso de lucros retidos [a sua "poupança"], a emissão de ações ou a emissão de dívida. Keynes se concentra no último tipo, dando ênfase ao crédito como elemento fundamental de uma economia de mercado. A existência de um mercado financeiro bem azeitado seria, então, a condição necessária para a sustentabilidade do crescimento econômico, haja visto que dele depende o investimento.
É claro que, lembrará o leitor amigo, a simples existência de um mercado financeiro pressupõe algum nível de poupança prévia. Isto porque, por mais alavancado que um banco [ou de modo mais geral, um intermediador financeiro] esteja, algum capital mínimo ele deverá manter em seus cofres. E só o mantém se possuir em sua carteira um conjunto mínimo de agentes poupadores.
Mas isso, ao contrário do que pensam alguns, não inviabiliza o argumento keynesiano. A existência de um mercado financeiro organizado [e, portanto, de uma poupança prévia] nada mais é do que a consequência de uma acumulação primitiva de capital. E neste momento específico da História humana a idéia de poupança prévia perde importância.
Keynes lembra ainda que uma alta propensão média a poupar pode trazer mais transtornos do que propriamente benefícios à economia. Isto porque, se a renda é dividida entre consumo e poupança, um aumento em uma parcela está intimamente ligado a uma redução da outra. Desse modo, o aumento da poupança, ao reduzir o consumo [e, portanto, a demanda], faz com que empresários acumulem estoques, freando investimentos na ampliação da capacidade produtiva, reduzindo a taxa de crescimento econômico.
Assim sendo, é a poupança completamente desimportante? Não, de modo algum [é curioso como ao ter contato com as idéias keynesianas alguns jornalistas e mesmo economistas têm esse tipo de "conclusão"]. A questão levantada por Keynes é que o aumento da poupança é consequência [e não causa] do crescimento econômico. As economias de mercado avançam quando o investimento [elo autônomo da demanda] avança. E este só é possível se i) os empresários acreditam que irão vender os seus produtos; ii) existe um mercado financeiro capaz de financiar esse investimento.
Passando do positivo para o normativo, a questão-chave para a sustentabilidade do crescimento brasileiro não é a poupança [um resíduo], mas sim o porquê do nosso sistema bancário ser involuído. Por que o crédito privado é tão pequeno como proporção do PIB? Por que os bancos privados emprestam tão pouco? A resposta deve ser encontrada em uma simples olhada nas carteiras dos bancos. Elas estão abarrotadas de títulos públicos! Com uma taxa de juros básica elevada, por que cargas d´água assumirei maiores riscos emprestando a um empresário que nem tem idéia se conseguirá vender os seus produtos?
O custo de oportunidade de emprestar dinheiro no Brasil é muito alto. É isto que significa termos uma taxa de juros básica [a SELIC] em níveis tão altos. E ela é alta, em grande medida, por nossa irresponsabilidade no manejo das finanças públicas e por nossa incapacidade em construir um ambiente juridicamente estável.
Temos trilhado nos últimos anos um caminho diverso do comumente vivenciado ao longo da nossa História. É salutar verificar que hoje existe no Brasil um mecanismo jurídico de responsabilidade fiscal. Mas isto é ainda muito pouco para termos um sistema bancário disposto a emprestar. É preciso reduzir o risco de crédito, i.e., é preciso que o ambiente de negócios brasileiro tenha previsibilidade. É preciso que tenhamos um sistema jurídico que esteja do lado do credor [e não do devedor, como é hoje].
Essas são as grandes questões que devemos discutir. A redução dos juros básicos e a construção de um sistema judiciário eficiente são fundamentais para a sustentabilidade do crescimento, pois impulsionariam um aumento da relação crédito/PIB – atualmente em pouco mais de 40%. Pelo contrário, o debate ralo que se vê nos cadernos de economia pouco se concentra nesses desafios. É, leitor amigo, simplesmente lamentável…
This entry was posted on quinta-feira, junho 24th, 2010 at 3:18 pm and is filed underConjuntura Econômica, PIB. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site.