Antes de ler as matérias copiadas abaixo, peço que me acompanhem em um exercício financeiro para contextualizar a leitura:
Obs.: no exercício, para simplificar os cálculos, estou usando as taxas de juros básicas de cada região e do Brasil (SELIC) e não considerando as conversões cambiais envolvidas, que podem reduzir ou aumentar os valores repatriados aos Investidores Estrangeiros
3 Investidores Estrangeiros decidem aplicar dinheiro no Brasil, no Mercado Financeiro:
1 Alemão (pessoa ou empresa) toma emprestado R$1.000,00 com juros de Banco Europeu de 1% / ano
Traz para o Brasil e aplica com juros SELIC de 11% / ano
Depois de 1 ano:
· Retira R$1.110,00 do Brasil
· Paga R$1.010,00 para o Banco Europeu
· Tem um lucro de: R$90,00
1 Norte-americano (pessoa ou empresa) toma emprestado R$1.000,00 com juros de Banco de Norte-americano de 0% / ano
Traz para o Brasil e aplica com juros SELIC de 11% / ano
Depois de 1 ano:
· Retira R$ R$1.110,00 do Brasil
· Paga R$ R$1.000,00 para o Banco Norte-americano
· Tem um lucro de: R$110,00
1 Japonês (pessoa ou empresa) toma emprestado R$1.000,00 com juros de Banco Japonês de 0,1% / ano
Traz para o Brasil e aplica com juros SELIC de 11% / ano
Depois de 1 ano:
· Retira R$1110,00 do Brasil
· Paga R$1001,00 para o Banco Japonês
· Tem um lucro de: R$ 109,00
Enquanto isto no Brasil:
- No começo do ano em analise entraram: R$3.000,00 de Inve
stimento Direto Estrangeiro (IDE)
- No final do ano considerado saíram: R$3.330,00 de Remessas de Capital e Lucros
Prejuízo para o Brasil de: R$330,00
Este é o mecanismo de Arbitragem de Taxas de Juros entre países comentado em reportagem abaixo.
A Dívida Pública do Brasil cresce ou é usado dinheiro do Orçamento Público para proporcionar este lucro ao Investidor Estrangeiro (Orçamento Público: aquele que deveria proporcionar Aposentadoria, Educação, Investimentos em Infra estrutura, Saúde, Segurança, etc. para o povo brasileiro) !!!!
Isto é que é Negócio da China !!!!
Pensemos agora em milhões, ou bilhões, de Dólares, Euros, Iens, etc. fazendo este passeio pelo Mercado Financeiro do Brasil.
Preocupante: não me parece característica de uma economia sustentável. Principalmente quando metade do orçamento está sendo gasto com a Dívida Pública (http://74.53.188.162/~ cfemeao/orcamento/index.php? option=com_content&task=view& id=148&Itemid=30)
+Informações:
O déficit da União está no orçamento fiscal e não no da seguridade social - Fusão dos Fiscos
Trecho destacado do primeiro artigo desta série
(...)
Oficialmente, o governo gastou até 2008 30,57% do orçamento com juros e amortizações da dívida pública (R$ 282 bilhões). Quando computados os recursos emitidos para o refinanciamento das dívidas este percentual sobe para 47%. Abaixo, um gráfico que mostra o drama da divisão do orçamento em 2008.
Vale ressaltar que no último ano do governo FHC, o percentual do orçamento gasto com o pagamento de juros, amortizações e rolagem da dívida foi de 45,16%. Ou seja, dois pontos percentuais inferior ao que o governo atual gastou já em 2008, apesar do cenário econômico mundial favorável que o Governo do PT pegou.
Traduzindo o “economês”, o refinanciamento da dívida significa renovar as dívidas vencidas com novos prazos e juros, naturalmente. Em outras palavras, significa jogar a responsabilidade para o próximo governo. Tal mecanismo tem se repetido ao longo das últimas décadas com as dívidas externa e interna. A lógica dos governos é a seguinte: não importa o valor da dívida, o que importa é seu percentual em relação ao Produto Interno Bruto – PIB (a soma de todas as riquezas produzidas pelo país). Por este ângulo, o governo Lula se gaba hoje de ter uma dívida interna correspondente a 44% do PIB, valor inferior ao pico de 1998, quando este percentual chegou a 56% no auge da seqüencia de crises internacionais do segundo governo FHC.
Por esta lógica, o governo atual teria ainda 12% de margem para se endividar, pois o parâmetro é sempre o governo FHC. Ou seja, não importa se a dívida da época era de 645 bilhões e hoje este valor mais que dobrou. O que importa é capacidade do governo em “honrar seus compromissos”, mesmo que estes consumam metade do nosso orçamento.
É com este pensamento que o Governo programa a emissão de títulos das dívidas (novos empréstimos). A antecipação do lançamento dos títulos que serviram para “pagar” a dívida do FMI é apenas um exemplo de como o governo programa seus orçamentos. Em outras palavras, a “emissão de títulos” tornou-se uma das fontes de recursos do Governo, principalmente nos períodos pré-eleitorais.
(...)
Vejam a evolução em apenas 1 ano!
Interessante fazer uma analise de quem perdeu e de quem ganhou participação no Orçamento Publico, entre 2008 e 2009. É muito esclarecedor!!!
(AUDITORIA CIDADÃ DA DÍVIDA http://www.divida-auditoriacidada.org.br/)
A Evolução da Dívida Pública
http://ecen.com/content/eee6/divipub2.htm
Notícias que motivaram a reflexão:
NA CBN
Aumentou muito a dependência do Brasil ao capital especulativo para fechar o déficit em transações correntes que, em maio, ficou em US$ 2 bilhões, o segundo maior depois de maio de 2001, no auge do apagão. Isso significa que o país precisa financiá-lo com a entrada de investimento. Ontem, o BC divulgou esses dados e reduziu em 15,56% a previsão de entrada de investimento produtivo, uma diminuição de US$ 7 bilhões. O mercado, no entanto, prevê queda maior.
Mas o que produziu essa baixa num momento em que todos estão otimistas com o país? A Europa, que é importante demais para a economia brasileira nas áreas de investimento e comércio, está em crise. As empresas estrangeiras estão investindo menos e querendo mais remessas de lucros e dividendos para financiar as suas matrizes.
Sem a entrada do capital especulativo, que vem, por exemplo, por causa dos juros mais altos do que em outros países, o déficit não seria financiado. Esse não é um grande problema, como foi no passado, porque o Brasil tem reservas bem altas e a situação das contas está mais tranquila, mas não é uma coisa muito boa. É preciso acompanhar esses números.
Contraponto:
Em suma, como observa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), “os fluxos de natureza estritamente financeira responderam por 81,6% deste ingresso. A análise desagregada desses fluxos revela que seus principais componentes foram as aplicações dos investidores estrangeiros em ações e renda fixa no país e o crédito comercial” (IEDI, “IDE industrial ainda não reagiu”, 22/04/2010).
(..)
Daí porque as reservas monetárias não são um colchão em que possamos repousar. Aliás, não é possível basear a segurança econômica do país nas reservas em dólar. Primeiro, porque elas são finitas. Segundo, porque são compostas fundamentalmente não pelos saldos comerciais, mas por dólares que o BC troca por reais para os especuladores externos – e já sabemos o que aconteceu em outros países com reservas desse tipo. Por consequência, terceiro: manter a reserva atual (ou aumentá-la) significa manter alta a especulação, portanto, os juros altos e a sobrevalorização do câmbio, o que é incompatível com um desenvolvimento à altura do tamanho e dos recursos do país.
Mas, ainda que o déficit fosse coberto com o IDE, e ainda que ele suba tanto que chegue aos US$ 45 bilhões vaticinados pelo BC para este ano, isso significaria, em pouco tempo, somente mais remessas de lucros, a desnacionalização de mais uma parte da economia e o endividamento do país. Que mérito teria, então, fechar as contas do dia à custa de sacrificar os objetivos estratégicos nacionais?
Os trechos acima foram extraídos do seguinte artigo, onde estão explicados:
Déficit nas contas externas cresce e BC quer mais juros
Escrito por Carlos Lopes/Hora do Povo
27/04/2010
Impulsionado por remessas e importações, déficit atingiu US$ 12,145 bilhões no primeiro trimestre
Os resultados das contas externas em março e no primeiro trimestre foram ruins. Infelizmente, não é possível obter tranquilidade apenas com a comparação em relação a épocas em que a nossa situação era pior. Realmente, temos de agradecer ao Todo-Poderoso e ao povo brasileiro por não termos um tucano na Presidência – senão, estaríamos falando de catástrofe, em vez de resultado ruim. Mas isso não basta.
Dilma Rousseff tem toda a razão em que “temos de tomar medidas para reduzir a nossa necessidade de financiamento externo” (Valor Econômico, 23/04/2010). Aliás, o problema nas contas externas revela, exatamente, que no estágio em que o governo Lula colocou o país, esse terá que ser o próximo passo para garantir o crescimento. Vejamos os números:
BALANÇA COMERCIAL
Em março o comércio exterior teve apenas um pequeno superávit (US$ 668 milhões). E não foi porque exportamos pouco. Pelo contrário: em um mês as exportações somaram US$ 15,727 bilhões. Porém, as importações montaram a US$ 15,059 bilhões.
Da mesma forma, no trimestre o saldo comercial foi apenas US$ 892 milhões, apesar de termos exportado, no mesmo período, US$ 39,230 bilhões – mas as importações chegaram a US$ 38,337 bilhões.
As importações que mais cresceram (+41,5%) foram as de bens intermediários e matéria-prima, ou seja,insumos para a indústria, que foram quase metade (48,2%) delas, e o setor que mais importou foi o de material elétrico e de comunicações, com um déficit de US$ 3,6 bilhões – um aumento, no déficit, de 75,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado.
Assim, com a indústria comprando fora do país - inclusive o que antes de 1995 (isto é, antes do governo Fernando Henrique) era comprado dentro do país - o pequeno superávit foi devido totalmente às exportações agropecuárias e de matérias-primas minerais. A indústria de transformação (não-extrativista) importou US$ 7,7 bilhões a mais do que exportou - um aumento de 89% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
O problema, portanto, não está nas exportações. Não há esforço exportador, incentivos ou isenções que aumentem substancialmente o saldo comercial com o exterior, quando há dentro do país centenas de multinacionais que importam mais do que exportam, além de um câmbio sobrevalorizado que impele empresas brasileiras a importar seus insumos, ao invés de comprá-los no mercado interno.
O principal mecanismo para sobrevalorizar o real - o que torna as importações artificialmente mais baratas em relação aos produtos aqui fabricados - são os juros altos, atraindo dólares especulativos para dentro do país. No primeiro trimestre do ano passado, o preço médio de um dólar era R$ 2,30. No primeiro trimestre deste ano, desceu para R$ 1,80. O resultado é que, quando crescemos, as importações disparam e – junto com outros fatores - levam a uma crise nas contas externas. A solução a la Meirelles é frear o crescimento com mais um aumento de juros – que, por sua vez, leva a uma maior sobrevalorização do real, fazendo com que as importações fiquem ainda mais baratas.
Um círculo vicioso perverso e pervertido - se nos permitem os leitores: coisa de maluco. Mas tem sido esse o principal obstáculo à aceleração do crescimento proposta pelo presidente Lula. Agora mesmo o sr. Meirelles propala mais um aumento de juros.
Não vamos resolver o problema das contas externas – exceto muito provisoriamente – se não quebrarmos esse círculo de juros altos/real hiper valorizado, se não substituirmos insumos importados por insumos fabricados no país. Evidentemente, não serão as filiais de multinacionais que farão tal mudança. Temos centenas delas aqui – e seu efeito é aumentar as importações e remeter lucros para o exterior – ou seja, colocar em crise as contas externas.
É um truísmo dizer que um país somente pode se desenvolver sobre a base constituída pelas empresas nacionais – prioritariamente as não-monopolistas e as estatais. Mas é necessário repetir essa obviedade. Não será com o BNDES repartindo recursos do povo brasileiro entre multinacionais, testas-de-ferro de multinacionais e monopólios privados internos que resolveremos o problema das contas externas.
REMESSAS E ENTRADAS
As remessas para o exterior (serviços + rendas) somaram, em março, US$ 6,015 bilhões – e, no trimestre, US$ 13,823 bilhões, o que é mais do que o dobro do “investimento direto estrangeiro” (IDE) que entrou no mesmo período (US$ 5,656 bilhões).
Certamente, dirão os advogados do IDE, moderno é ter as empresas do país tomadas pelo capital estrangeiro. Infelizmente, além do importacionismo, a consequência é que a enxurrada de “investimento direto estrangeiro” causa uma enxurrada de remessas de lucros para o exterior, e, portanto, o desequilíbrio das contas externas – ou, o que é a mesma coisa, o sangramento de recursos do país.
Este é o significado do “déficit nas transações correntes”, projetado, pelo Banco Central, para US$ 49 bilhões este ano. Nos primeiros três meses, o déficit foi US$ 12,145 bilhões. Para que o leitor tenha uma ideia: em três meses, o deficit foi metade daquele do ano inteiro de 2009.
Por aqui se vê como eram ilusórias as esperanças de que a entrada de IDE cobrisse o rombo deixado na conta de transações correntes pelas importações e pelo próprio IDE - na medida em que as empresas, antes brasileiras, agora passam a remeter lucros para suas matrizes no exterior. O “investimento direto estrangeiro” (IDE) não faz parte da conta de transações correntes - mas seu inevitável corolário, a remessa de lucros, faz parte dela. Portanto, o IDE constitui uma das causas do problema nas contas externas – jamais uma solução para esses problemas.
Como se não bastasse essa troca do remédio pela doença, a entrada de IDE está caindo: em março, do total de dinheiro externo que entrou no país, apenas 18,4% (US$ 2,017 bilhões) foram “investimentos diretos”, enquanto 33,2% (US$ 3,649 bilhões) foram “investimentos em carteira” (IEC), isto é, dinheiro meramente especulativo, e nada menos do que 48,4% (US$ 5,313 bilhões) foram empréstimos bancários (OIE - “outros investimentos estrangeiros”).
Em suma, como observa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), “os fluxos de natureza estritamente financeira responderam por 81,6% deste ingresso. A análise desagregada desses fluxos revela que seus principais componentes foram as aplicações dos investidores estrangeiros em ações e renda fixa no país e o crédito comercial” (IEDI, “IDE industrial ainda não reagiu”, 22/04/2010).
Março não é um caso atípico. No trimestre, o IDE foi 20,9% do dinheiro externo, o IEC foi 34,5% e os “outros investimentos estrangeiros” (crédito bancário), 44,6%. Ou seja, estamos fechando a balança de pagamentos com “fluxos de natureza estritamente financeira”.
Daí porque as reservas monetárias não são um colchão em que possamos repousar. Aliás, não é possível basear a segurança econômica do país nas reservas em dólar. Primeiro, porque elas são finitas. Segundo, porque são compostas fundamentalmente não pelos saldos comerciais, mas por dólares que o BC troca por reais para os especuladores externos – e já sabemos o que aconteceu em outros países com reservas desse tipo. Por consequência, terceiro: manter a reserva atual (ou aumentá-la) significa manter alta a especulação, portanto, os juros altos e a sobrevalorização do câmbio, o que é incompatível com um desenvolvimento à altura do tamanho e dos recursos do país.
Mas, ainda que o déficit fosse coberto com o IDE, e ainda que ele suba tanto que chegue aos US$ 45 bilhões vaticinados pelo BC para este ano, isso significaria, em pouco tempo, somente mais remessas de lucros, a desnacionalização de mais uma parte da economia e o endividamento do país. Que mérito teria, então, fechar as contas do dia à custa de sacrificar os objetivos estratégicos nacionais?
Coutinho alerta para necessidade de conter déficit em conta corrente
Rafael Rosas | Valor
24/06/2010 15:01
RIO - O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, afirmou que o maior desafio para o Brasil será manter o crescimento sustentável sem causar um aumento excessivo do déficit em conta corrente.
Coutinho lembrou que, no início da década de 1980, o país, com grande déficit em conta corrente, viu uma parada súbita do crédito internacional usado para compensar o déficit, "o que custou 25 anos (de baixo crescimento econômico)".
"Agora estamos com tudo arrumado e não podemos deixar o déficit em conta corrente expandir enormemente", frisou Coutinho. "Precisamos também de uma transição para o financiamento doméstico de longo prazo, que sempre foi o calcanhar de Aquiles do Brasil", acrescentou.
O executivo ponderou que os 25 anos de baixo crescimento econômico incutiu nas empresas brasileiras uma mentalidade conservadora, com poucos investimentos em inovação e pesquisa e desenvolvimento (P & D).
"Agora temos a esperança no desenvolvimento do setor privado pela inovação", disse Coutinho, destacando as decisões de GE e IBM de construir laboratórios no país e garantindo que, por parte do BNDES não vão faltar recursos para aplicação em inovação.
Coutinho, que participou do debate "As perspectivas e os desafios do desenvolvimento", na sede do banco, lembrou o convênio com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para aplicação de R$ 1,5 bilhão no desenvolvimento do etanol de segunda geração, como exemplo dos recursos disponíveis para investimento em P & D.
(Rafael Rosas | Valor)
Coutinho lembrou que, no início da década de 1980, o país, com grande déficit em conta corrente, viu uma parada súbita do crédito internacional usado para compensar o déficit, "o que custou 25 anos (de baixo crescimento econômico)".
"Agora estamos com tudo arrumado e não podemos deixar o déficit em conta corrente expandir enormemente", frisou Coutinho. "Precisamos também de uma transição para o financiamento doméstico de longo prazo, que sempre foi o calcanhar de Aquiles do Brasil", acrescentou.
O executivo ponderou que os 25 anos de baixo crescimento econômico incutiu nas empresas brasileiras uma mentalidade conservadora, com poucos investimentos em inovação e pesquisa e desenvolvimento (P & D).
"Agora temos a esperança no desenvolvimento do setor privado pela inovação", disse Coutinho, destacando as decisões de GE e IBM de construir laboratórios no país e garantindo que, por parte do BNDES não vão faltar recursos para aplicação em inovação.
Coutinho, que participou do debate "As perspectivas e os desafios do desenvolvimento", na sede do banco, lembrou o convênio com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para aplicação de R$ 1,5 bilhão no desenvolvimento do etanol de segunda geração, como exemplo dos recursos disponíveis para investimento em P & D.
(Rafael Rosas | Valor)
José Paulo Kupfer
O investimento direto não é mais aquele
24 de junho de 2010 | 9h45
José Paulo Kupfer
Causou um certo rebuliço a informação de que o Banco Central reduziu em 15% sua projeção para o montante de investimentos estrangeiros diretos (IED) em 2010. Dos US$ 45 bilhões antes previstos, o BC espera agora ingressos de US$ 38 bilhões.
Defensores do câmbio valorizado engoliram em seco diante da possível perda de seu melhor argumento para a manutenção de juros básicos altos. “Os déficits externos não preocupam porque serão tranquilamente cobertos pelo ingresso de investimento direto”, diziam, a cada nova inflexão negativa nas contas externas. Agora, com as indicações de que o IED não vai cobrir o déficit, alguns fingem que a história não é com eles e alardeiam, com ares de denúncia, um aumento da dependência do País ao capital especulativo.
Essa não deixa de ser uma preocupação vazia. Afinal, o IED líquido cobre cada vez menos os déficits externos. IED líquido é aquele que resulta da diferença entre os capitais que entraram e os que saíram. O argumento dos que defendem a política monetária praticada pelo governo, ao considerar apenas o fluxo de entrada de recursos externos e carimbá-los com desejáveis por seu suposto caráter produtivo e não exigível, é uma tortuosa rua de mão única, repleta de buracos conceituais.
Ficar de olho apenas no ingresso de investimentos estrangeiros “produtivos” é lançar um olhar míope sobre os mecanismos de fechamento das contas externas. Visto que os ingressos de recursos não são feitos a fundo perdido ou a guisa de doação, eles geram passivos – exigências de ressarcimento no tempo. Dependendo do prazo de reembolso, nem mesmo se pode garantir que o IED “produtivo” seja produtivo e que seu caráter contábil seja, de fato, não exigível.
Olhar o ingresso de recursos externos sem olhar as saídas é ignorância ou má-fé – quem sabe as duas coisas. E como estão as saídas? Aqui recorro aos dados do balanço de pagamentos, analisados pelo economista e consultor Silvio Figer, que acompanha o movimento das remessas de lucros e juros com a mesma lente que observa o ingresso de IED.
No primeiro quadrimestre deste ano, conforme artigo publicado por Figer, no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, em 14 de junho, entrou de capital estrangeiro, entre investimentos em participação no capital de empresas e empréstimos inter-companhias, um total de US$ 7,88 bilhões. E saíram… US$ 6,9 bilhões. O saldo positivo entre o que entrou e o que saiu se resumiu a modestos US$ 900 milhões – pouco acima de 10% do volume ingressado.
Se tal saldo se repetisse pelos outros dois quadrimestres do ano, o total líquido de investimento estrangeiro direto se resumiria a menos de 0,2% do PIB. Em relação ao déficit em contas correntes projetado para o ano, equivaleria a menos de 6%. Seria uma novidade embalada na crise européia e, portanto, não estrutural? A resposta, infelizmente, é não.
Entre 2003 e 2007, o volume de remessas de lucros equivalia, em média, a 50% do total de IED destinado a participações de capital, com um pico de 80,5%, em 2006. Em 2008 e 2009, com a crise, o total de remessas subiu para o equivalente a 90% do IED ingressado. E está mantendo o padrão em 2010.
Figer verificou que, nessas proporções, entre 2003 e 2007, as remessas anulavam os ingressos de capitais externos “produtivos” a cada dois anos. Depois da crise, o prazo encurtou para pouco mais de um ano. A conclusão do economista, diante dos dados, é a de que esse comportamento, ao contrário da velha crença, não caracteriza um movimento de investimento produtivo.
Mesmo não esquecendo que as remessas derivam do estoque de IED e os ingressos se referem a um período determinado, em geral o ano civil, a aceleração no movimento de retorno é um indicativo de que se está diante de aplicações que, pelo menos em parte, se destinam à geração de lucros financeiros. O volume das remessas e o prazo curto em que elas anulam os investimentos são típicos de operações de arbitragem de juros, às quais se acrescenta um eventual ganho cambial pela valorização do real.
Há, no caso dos investimentos diretos, uma confusão conceitual e uma distorção contábil. O BC classifica os capitais ingressados como deve classificar, pelos destinatários: a indústria A, a rede varejista B, o banco C. Mas daí ao que a tesouraria das empresas faz com o dinheiro, o que não é acompanhado pelo BC ou quem quer seja, vai uma longa distância.
Para encurtar essa história, os investimentos diretos podem, é claro, ser destinados à produção. Mas também podem ter outros destinos e outros objetivos, inclusive os meramente especulativos. O que parece ser cada vez mais o caso.
Atualizado às 17h00
22/6/2010
Déficit em conta corrente do Brasil bate em US$ 19 bilhões
Comércio Exterior
O déficit em transações correntes, que é o registro das operações de compra e venda de mercadorias e serviços do Brasil com o exterior, chegou a US$ 18,748 bilhões, de janeiro a maio deste ano.
O resultado negativo é maior do que o registrado no mesmo período de 2009 (US$ 6,602 bilhões). Os dados foram divulgados pelo Banco Central (BC).
Somente em maio, o déficit em transações correntes chegou a US$ 2,020 bilhões, contra US$ 1,770 bilhão registrado no mesmo mês de 2009. O resultado do mês passado ficou abaixo do estimado pelo BC (US$ 2,7 bilhões).
Toda vez que o país gasta mais do que recebe com as vendas, é preciso financiar o saldo negativo por meio de empréstimos ou de investimentos externos. De janeiro a maio, o investimento estrangeiro direto (IED), recursos que são aplicados em empresas no Brasil, ficou em US$ 11,414 bilhões. Somente em maio, o IED chegou a US$ 3,534 bilhões.
Outra forma de investimento é aquele direcionado para ações e títulos de renda fixa. De janeiro a maio, o investimento em carteira registrou ingresso líquido (descontada a saída) de US$ 19,762 bilhões. No mês passado, esse valor chegou a US$ 3,671 bilhões.
O resultado negativo é maior do que o registrado no mesmo período de 2009 (US$ 6,602 bilhões). Os dados foram divulgados pelo Banco Central (BC).
Somente em maio, o déficit em transações correntes chegou a US$ 2,020 bilhões, contra US$ 1,770 bilhão registrado no mesmo mês de 2009. O resultado do mês passado ficou abaixo do estimado pelo BC (US$ 2,7 bilhões).
Toda vez que o país gasta mais do que recebe com as vendas, é preciso financiar o saldo negativo por meio de empréstimos ou de investimentos externos. De janeiro a maio, o investimento estrangeiro direto (IED), recursos que são aplicados em empresas no Brasil, ficou em US$ 11,414 bilhões. Somente em maio, o IED chegou a US$ 3,534 bilhões.
Outra forma de investimento é aquele direcionado para ações e títulos de renda fixa. De janeiro a maio, o investimento em carteira registrou ingresso líquido (descontada a saída) de US$ 19,762 bilhões. No mês passado, esse valor chegou a US$ 3,671 bilhões.
Por Agência Brasil
O Brasil precisa de poupança para crescer?
Desde que foi divulgado o resultado do PIB no 1º Trimestre [alta de 2,7% contra o 4º trimestre de 2009] tem sido publicado nos cadernos de economia uma série de matérias sobre a sustentabilidade do atual ciclo de crescimento econômico. De maneira geral, existiriam dois tipos de limitações recorrentes: i) um problema de oferta, sintetizado no aumento de preços; ii) um problema de falta de poupança, expresso no aumento do déficit em conta corrente. Aqui, me concentro no segundo, dado que o primeiro é tema recorrente neste espaço.
Há uma tese em economia, sustentada desde que a primeira grande obra nesse campo do conhecimento foi publicada [A Riqueza das Nações - Investigação sobre sua natureza e suas causas, Adam Smith, 1776], de que o crescimento necessita de poupança. Isto porque, para que o investimento em máquinas e equipamentos [denominada nas Contas Nacionais como Formação Bruta de Capital Fixo] possa existir é preciso que ele seja financiado. Assim, a existência de poupança prévia para financiar o aumento do estoque de capital seria condição necessária para que uma economia alcançe taxas mais robustas de crescimento econômico.
Dado isto, a taxa de investimento no Brasil é baixa em relação ao PIB porque igualmente é baixa a taxa de poupança – atualmente esta está em 15% [do PIB] e aquela em 18%. Para dar robustez ao argumento, geralmente o jornalista [ou mesmo economista] cita a emergente China, com seus impressionantes 50% de taxa de poupança e 40% de taxa de investimento em relação ao PIB. Por fim, cita-se o recorrente fato de que a falta de poupança doméstica [privada mais pública] é a a causa de termos sempre um aumento do déficit em conta corrente [que é em termos de contas nacionais igual ao uso de poupança externa]. Somente para esse ano as projeções estão em US$ 50 bilhões de déficit.
O argumento é claro, portanto, em defender o aumento da poupança, de modo a financiar o investimento, evitando o aumento do déficit em conta-corrente – que seria insustentável no médio prazo. Para que isso ocorra, é preciso que a) haja uma reforma na previdência, de modo a criar incentivos para que os brasileiros poupem mais; b) o governo reduza seus gastos correntes, aumentando a poupança pública. Feito isto, ai sim, poderíamos sustentar o atual ciclo de crescimento econômico.
A teoria alternativa ataca justamente a idéia da necessidade de poupança prévia para financiar o aumento no estoque de capital. Ela é baseada na obra de John Maynard Keynes, que em sua Teoria Geral [1936] provou que a poupança é um resíduo dentro do sistema econômico – ela é determinada ex-post. Não existiria, portanto, uma decisão autônoma sobre a poupança. Em economias de mercado, onde são feitas milhares de transações comerciais [onde uma compra corresponde a uma venda], a única decisão autônoma é a decisão de gastar, de comprar um bem ou serviço. O empresário não possui controle sobre o que vende, ele não sabe se de fato irá vender o que produziu. Se assim fosse [como previa a Lei de Say] não poderia haver nenhuma crise econômica, já que todos os bens e serviços produzidos em uma economia seriam vendidos. Não há, portanto, incerteza nesse tipo de raciocínio.
Sendo a decisão de gastar a única decisão realmente autônoma, como ela pode ser definida? Keynes divide o gasto [ou despesa] agregado de uma economia em dois tipos: consumo e investimento. O consumo seria função basicamente da renda do indivíduo [atualmente não apenas da renda, mas muito consideravelmente do crédito] enquanto o investimento seria função do custo representado por tomar empréstimo [as taxas de juros] e apenas indiretamente da renda corrente.
Nesse contexto, sendo o consumo função da renda corrente, há de se ter um raciocínio circular quando queremos investigar as causas do aumento do PIB [e, portanto, da renda agregada] dos países. Tendo isso em vista, Keynes se concentra no investimento corrente como propulsor do crescimento econômico. No curto prazo, o fluxo de investimento em máquinas e equipamentos é um componente do gasto agregado, já no médio e longo prazos é também componente da oferta, pois faz aumentar a capacidade produtiva. Estaria bem, portanto, a economia que conseguisse fazer com que os empresários [dominados pela incerteza da economia e dotados de expectativas sobre o futuro] aumentassem os seus investimentos, apostando que seus produtos encontrassem um feliz comprador no futuro.
Sendo o investimento o propulsor [vividamente autônomo] do crescimento, como financiá-lo? Keynes supõe, como dito, que a poupança é um mero resíduo do processo produtivo, sendo determinada apenas ex-post. Então, como o empresário financia a ampliação da sua planta? Ele tem três alternativas gerais para se financiar: o uso de lucros retidos [a sua "poupança"], a emissão de ações ou a emissão de dívida. Keynes se concentra no último tipo, dando ênfase ao crédito como elemento fundamental de uma economia de mercado. A existência de um mercado financeiro bem azeitado seria, então, a condição necessária para a sustentabilidade do crescimento econômico, haja visto que dele depende o investimento.
É claro que, lembrará o leitor amigo, a simples existência de um mercado financeiro pressupõe algum nível de poupança prévia. Isto porque, por mais alavancado que um banco [ou de modo mais geral, um intermediador financeiro] esteja, algum capital mínimo ele deverá manter em seus cofres. E só o mantém se possuir em sua carteira um conjunto mínimo de agentes poupadores.
Mas isso, ao contrário do que pensam alguns, não inviabiliza o argumento keynesiano. A existência de um mercado financeiro organizado [e, portanto, de uma poupança prévia] nada mais é do que a consequência de uma acumulação primitiva de capital. E neste momento específico da História humana a idéia de poupança prévia perde importância.
Keynes lembra ainda que uma alta propensão média a poupar pode trazer mais transtornos do que propriamente benefícios à economia. Isto porque, se a renda é dividida entre consumo e poupança, um aumento em uma parcela está intimamente ligado a uma redução da outra. Desse modo, o aumento da poupança, ao reduzir o consumo [e, portanto, a demanda], faz com que empresários acumulem estoques, freando investimentos na ampliação da capacidade produtiva, reduzindo a taxa de crescimento econômico.
Assim sendo, é a poupança completamente desimportante? Não, de modo algum [é curioso como ao ter contato com as idéias keynesianas alguns jornalistas e mesmo economistas têm esse tipo de "conclusão"]. A questão levantada por Keynes é que o aumento da poupança é consequência [e não causa] do crescimento econômico. As economias de mercado avançam quando o investimento [elo autônomo da demanda] avança. E este só é possível se i) os empresários acreditam que irão vender os seus produtos; ii) existe um mercado financeiro capaz de financiar esse investimento.
Passando do positivo para o normativo, a questão-chave para a sustentabilidade do crescimento brasileiro não é a poupança [um resíduo], mas sim o porquê do nosso sistema bancário ser involuído. Por que o crédito privado é tão pequeno como proporção do PIB? Por que os bancos privados emprestam tão pouco? A resposta deve ser encontrada em uma simples olhada nas carteiras dos bancos. Elas estão abarrotadas de títulos públicos! Com uma taxa de juros básica elevada, por que cargas d´água assumirei maiores riscos emprestando a um empresário que nem tem idéia se conseguirá vender os seus produtos?
O custo de oportunidade de emprestar dinheiro no Brasil é muito alto. É isto que significa termos uma taxa de juros básica [a SELIC] em níveis tão altos. E ela é alta, em grande medida, por nossa irresponsabilidade no manejo das finanças públicas e por nossa incapacidade em construir um ambiente juridicamente estável.
Temos trilhado nos últimos anos um caminho diverso do comumente vivenciado ao longo da nossa História. É salutar verificar que hoje existe no Brasil um mecanismo jurídico de responsabilidade fiscal. Mas isto é ainda muito pouco para termos um sistema bancário disposto a emprestar. É preciso reduzir o risco de crédito, i.e., é preciso que o ambiente de negócios brasileiro tenha previsibilidade. É preciso que tenhamos um sistema jurídico que esteja do lado do credor [e não do devedor, como é hoje].
Essas são as grandes questões que devemos discutir. A redução dos juros básicos e a construção de um sistema judiciário eficiente são fundamentais para a sustentabilidade do crescimento, pois impulsionariam um aumento da relação crédito/PIB – atualmente em pouco mais de 40%. Pelo contrário, o debate ralo que se vê nos cadernos de economia pouco se concentra nesses desafios. É, leitor amigo, simplesmente lamentável…
Tags: crescimento econômico, déficit em conta corrente, financiamento do investimento, keynes, lei de say, necessidade de poupança para crescer, poupança,poupança é resíduo, poupança e investimento, princípio da demanda efetiva
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