quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um roteiro em dez passos de uma Crise Financeira

Um roteiro em dez passos de uma Crise Financeira

1.  Alguém (Empresa, Órgão de um Governo, Organização) apresenta um projeto ao Sistema Financeiro

2.  A Instituição Financeira encarregada de avaliar o retorno do projeto não cumpre seu papel corretamente:

  • ·         Errando na avaliação do retorno em si, geralmente estimado como muito maior que o possível
  • ·         Errando na avaliação do risco envolvido deste retorno não ocorrer, o que deveria aumentar as taxas cobradas – reduzindo o retorno - ou, no limite, impedindo a contratação da Operação Financeira.


3. O engano acima se repete milhões, bilhões (??!!!!) de vezes.  Exemplos recentes: Bolhas imobiliárias (Japão, Sub-prime), Escândalos empresariais (Enron [1], Parmalat [2] , WorldCom [3])

Nota: os Intermediários Financeiros estão recebendo normalmente seus rendimentos e, em geral trimestralmente, bônus sobre os volumes, ou sobre os altos retornos esperados, na forma de Lucros Futuros, sobre as Operações Financeiras contratadas conforme este roteiro.

4. Surgem indícios de que os Credores (Investidores em Fundos (de ações, de pensões (aposentadorias), de Renda Fixa, depositantes nos Bancos, etc.) não receberão os lucros projetados nas Operações Contratadas de acordo com este roteiro

5  As Operações Financeiras tem seus Lucros Projetados reavaliados, “marcados a Mercado”, muitas vezes o próprio valor investido, “virando pó”, pois “descobre-se” a incapacidade dos Devedores pagarem as Operações Financeiras.

6. Os resultados das Instituições Financeiras são afetados, tornando muitas delas insolventes.

7. Para evitar uma Crise Sistêmica, os Tesouros Nacionais – leiam-se os Consumidores / Contribuintes – são chamados a contribuir para evitar a falência do Sistema Financeiro. O dinheiro dos Tesouros Nacionais, que foi recolhido para financiar as atividades típicas de Governo – tais como: educação, previdência, saúde, segurança pública - é alocado ao Sistema Financeiro para evitar sua ruptura.

Nota: como os Governos não têm dinheiro disponível – normalmente estão com todas suas Receitas Tributárias comprometidas com despesas já contratadas, quando já não estão endividados, surgem duas possibilidades:

·         Emissão de moeda, gerando Inflação, o aumento generalizado dos preços dos Produtos e Serviços penalizando os Consumidores / Contribuintes.

·         Obtenção de Empréstimos junto a Instituições Financeiras ou, o que normalmente ocorre em momentos de Crise Financeira, junto a Organismos Internacionais – FMI, Comunidade Européia – redistribuindo a conta da Crise Financeira entre Consumidores / Contribuintes de vários países.

8. É feito o saneamento do Sistema Financeiro - a transformação de Dividas Privadas em Dividas Governamentais - ou no jargão popular a “Socialização dos Prejuízos”.

9. As populações de Consumidores / Contribuintes afetadas arcarão com as conseqüências destas dividas por longos períodos. Estas conseqüências são conhecidas como: depressão, estagnação, estaglação, inflação, recessão e outros termos criados e teorizados pelos Doutores em Economia, para garantir que o Sistema Financeiro não repita seus erros.

10. O Sistema Financeiro retoma seu funcionamento normal!!!

Nota: às vezes o “final feliz” não é tão fácil de ocorrer. Como quando a população de Consumidores / Contribuintes, chamados a contribuir, se revolta com a situação, impedindo, ou retardando, a solução da Crise Financeira. Um exemplo desta situação inconveniente está sendo apresentado pela população da Grécia, o berço da Civilização Ocidental.

The End ?

(Uma vez que já vimos este filme várias vezes: 1929 / 1970 / 1984 / 1989 / 1994 / 2000 / 2002 / 2004 / 2008 / 2010)

Qualquer semelhança com fatos ou personagens reais é mera coincidência.



[1] Enron

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A Enron Corporation era uma companhia de energia estadunidense, localizada em Houston, Texas. A Enron empregava cerca de 21.000 pessoas, tendo sido uma das companhias líderes no mundo em distribuição de energia (electricidade, gás natural) e comunicações. Seu faturamento atingia $101 bilhões de dólares em 2000, pouco antes do escândalo financeiro que ocasionou sua falência.
Alvo de diversas denúncias de fraudes contábeis e fiscais e com uma dívida de US$ 13 bilhões, o grupo pediu concordata em dezembro de 2001 e arrastou consigo a Arthur Andersen, que fazia a sua auditoria. Na época, as investigações revelaram que a Enron havia manipulado seus balanços financeiros, com a ajuda de empresas e bancos, e escondeu dívidas de US$ 25 bilhões por dois anos consecutivos, tendo seus lucrosinflados artificialmente.
O governo dos Estados Unidos abriu dezenas de investigações criminais contra executivos da Enron e da Arthur Andersen. A Enron foi também processada pelas pessoas lesadas. De acordo com os investigadores, os executivos e contadores, assim como instituições financeiras e escritórios de advocacia, que à época trabalhavam para a companhia, foram, de alguma forma e em diferentes graus, responsáveis pelo colapso da empresa.
Em razão de uma série de escândalos financeiros coorporativos, como o da Enron, foi redigida a lei Sarbanes-Oxley, em 2002 .

[2] Em que a Parmalat difere dos escândalos americanos

Ética Empresarial
Universia-Knowledge@Wharton [4]

Quando o escândalo da Parmalat veio à tona em meados de dezembro foi logo chamado de “Enron da Europa”, sugerindo que fraudes de bilhões de dólares não são, afinal, um fenômeno predominantemente americano. Mas será que o caso da Parmalat, empresa italiana de laticínios com sede em Parma que emprega 36.000 pessoas em 29 países, é realmente semelhante aos escândalos das empresas americanas dos últimos três anos?

Como o caso da Parmalat ainda está se desenrolando, não está claro em que medida se assemelha aos casos americanos, mas certamente há semelhanças superficiais, diz Robert E. Mittelstaedt Jr., vice-diretor e diretor de educação executiva da Wharton.“De certo modo não é mais do que um sintoma dos tempos; trata-se de pessoas muito ambiciosas que fazem qualquer coisa para satisfazer suas ambições. Não é diferente do que aconteceu com outras empresas como a Enron.”

Parmalat, Enron e outras empresas americanas como Tyco e WorldCom: a falsificação de números é central em todos estes casos – tentativas para fazer as empresas parecerem mais saudáveis do que eram. Todas elas levantam dúvidas sobre o comportamento de contadores, auditores e financiadores que talvez soubessem, deveriam saber ou de fato sabiam que algo estava errado.

Nos dias de hoje, “grandes empresas parecem estar propensas a se envolver em alguns tipos estarrecedores de falcatruas para aumentar o preço das ações ou manter a participação de mercado”, diz Thomas Donaldson, professor de estudos jurídicos da Wharton. Isso não acontecia há 20 ou 30 anos, seja nos EUA ou no exterior, acrescenta. O caso da Parmalat demonstra que não é apenas um problema americano, mas o resultado de atitudes que “contaminaram o pensamento contemporâneo” de muitos executivos em todo o mundo.

Dito isto, Donaldson observa, a Parmalat de fato tem algumas características únicas. Embora o caso seja comparável em magnitude ao da Enron em alguns pontos, “o modo pelo qual foi executado foi muito diferente… [A da Parmalat] é uma fraude muito mais comum e rotineira, mas em proporções imensas”. Um elemento-chave do caso da Parmalat, por exemplo, foi a descarada falsificação de uma carta que dizia que a empresa de laticínios tinha US$ 4,9 bilhões depositados no Bank of America.

Telefonista como diretor executivo
O colapso da Parmalat teve início em novembro quando seu auditor levantou dúvidas sobre um lucro de derivativos de US$ 135 milhões. Depois de outras evidências de falsificações contábeis, o diretor executivo e fundador da empresa, Calisto Tanzi, renunciou em 15 de dezembro. Quatro dias depois, a empresa divulgou a carta falsa do Bank of America. Em 23 de dezembro, os investigadores italianos informaram que a empresa havia utilizado dezenas de empresas do exterior para comunicar ativos não existentes com o intuito de compensar cerca de US$ 11 bilhões em passivos, acrescentando que a Parmalat poderia estar falsificando sua contabilidade há cerca de 15 anos.

A Parmalat pediu concordata no dia seguinte. Em 27 de dezembro, Tanzi foi detido pela polícia. Outros sete executivos foram detidos dias depois. E, em 29 de dezembro, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA moveu uma ação contra a Parmalat, acusando-a de utilizar demonstrações financeiras falsas para fazer com que investidores dos EUA comprassem mais de US$ 1,5 bilhão em valores mobiliários.

Os investigadores acreditam que mais de US$ 10 bilhões podem ter sido desviados da empresa. Eles estão investigando que papel, se algum, pode ter sido desempenhado pelos auditores da empresa, pelas afiliadas italianas da Grant Thornton e Deloitte & Touche e por bancos estrangeiros, inclusive o Citibank e o Deutsche Bank, que ajudaram a Parmalat a fazer negócios. Entre as alegações mais bizarras: um telefonista da Parmalat foi inadvertidamente listado como diretor executivo de mais de 25 empresas afiliadas utilizadas para mascarar os problemas financeiros da empresa.

Inicialmente, parecia que o propósito das manobras contábeis era o de manter a empresa solvente depois que perdeu fortunas na América Latina, mais do que enriquecer diretamente Tanzi e sua família – embora eles certamente tivessem interesse financeiro em ver a empresa sobreviver. Nesse sentido, o caso parecia diferente de muitos casos americanos, como o da Tyco e da Enron, onde o principal objetivo parecia ser enriquecer um punhado de detentores de informações privilegiadas. A maioria dos relatos diz que a família Tanzi tinha um estilo de vida relativamente modesto considerando o seu patrimônio. Isso não pode ser dito dos norte-americanos acusados de malversação, como o diretor executivo da Tyco, L. Dennis Kozlowski, que costumava dar festas milionárias para a alta sociedade internacional.

Na segunda semana de janeiro, no entanto, foram publicadas reportagens afirmando que a família Tanzi na verdade beneficiou-se diretamente de algumas atividades impróprias. Os investigadores disseram que o ex-diretor financeiro da empresa informou que a fornecedora sueca de embalagens da Parmalat, a Tetra Pak, havia pago milhões em propinas para os Tanzis. E os promotores disseram que Tanzi admitiu ter transferido cerca de US$ 620 milhões da Parmalat para a agência de viagens da família.

Como os casos americanos, o escândalo da Parmalat suscitou questões sobre como a empresa pôde mascarar seus números por tanto tempo sem ajuda de fora. Os auditores, diz Mittelstaedt, deveriam, no mínimo, ter falado com o Bank of America para verificar se ele estava com os US$ 4,9 bilhões afirmados pela Parmalat.

Os investigadores estão examinando se o Bank of America estava de alguma maneira envolvido na falsa afirmação, embora o banco diga que não estava. Não é razoável esperar que o banco vasculhe o mundo todo para ver se alguém está usando seu nome de modo impróprio, observa Mittelstaedt, acrescentando, no entanto, que as empresas que subscreveram as ofertas de títulos e ações da Parmalat deveriam ter investigado o suficiente para saber que a empresa não podia comprovar suas demonstrações financeiras.

Negócios ao estilo italiano
Embora o caso da Parmalat mostre que falcatruas financeiras podem ocorrer na Europa, Peter Cappelli, diretor do Centro de Recursos Humanos da Wharton, acha que “é mais difícil isto ocorrer fora dos EUA”. Na década de 1990, a legislação federal nos EUA limitava a dedução fiscal de empresas ao primeiro US$ 1 milhão em salários de executivos, estimulando a mudança para as opções de ações como uma forma alternativa de remuneração. Pelo fato de que normalmente expiram em 10 anos, as opções dão aos executivos um incentivo para aumentar os preços das ações no curto prazo, e algumas empresas fizeram uso de manobras contábeis para fazer isso, diz Cappelli.

À medida que os pacotes de remuneração dos executivos se tornaram mais complexos, acrescenta Cappelli, as empresas passaram a depender mais dos consultores de remuneração que, pelo fato de trabalharem para o diretor executivo, acham que precisam pagar salários maiores para manter a empresa. Nos EUA, é aceitável que os executivos alcancem remunerações e benefícios cada vez maiores. ”Isso não é muito comum na Europa”, diz. ”Acho que é principalmente isso que mantém [as coisas] sob controle, essas normas sociais.”

No geral, as empresas européias não seguiram o modelo dos EUA. Os executivos europeus não têm salários tão altos e não têm os mesmos incentivos para aumentar o desempenho no curto prazo às custas da saúde de suas empresas no longo prazo.

Donaldson observa, no entanto, que a cultura empresarial italiana faz com que de certa forma haja maior probabilidade de escândalos do que em outros países europeus. ”A Parmalat teria tido muito mais dificuldade na Alemanha, na Suécia ou na Grã-Bretanha. Não é segredo que as redes às vezes quase familiares de amizade e negócios podem tanto dar errado quanto certo.” A Itália, acrescenta Donaldson, “tem muitos pontos fortes, mas também tem muitos pontos fracos, da influência da Máfia à tendência de as pessoas do governo e do setor privado se envolverem em relações mais emocionais”.

Em certo sentido, o escândalo da Parmalat reflete os efeitos da globalização e do uso crescente, no mundo, de derivativos exóticos para evitar riscos como flutuações da moeda. A Parmalat tinha cerca de 200 afiliadas, subsidiárias e outras relações obscuras, assim como a Enron tinha uma porção de “entidades de propósito especial” usadas para esconder as dívidas.

Logo depois do escândalo da Parmalat, a União Européia anunciou planos para endurecer as normas contábeis. Uma das mudanças propostas determina que um único auditor seja designado para assumir total responsabilidade pelas demonstrações de uma empresa, que é a prática nos EUA. Os investigadores acreditam que o uso de dois auditores pela Parmalat deixou lacunas que facilitaram as manobras contábeis.

Também há uma proposta para criar agências de supervisão de auditoria em todas as 15 nações-membro, similar ao conselho de supervisão criado nos EUA depois da Enron.

Donaldson sugere que, embora reforma regulatória, supervisão e fiscalização sejam importantes, “os mais espertos são sempre capazes de encontrar maneiras mais inteligentes de burlar as regras. No fim, não há substituto para pessoas conscientes fazendo o que sabem ser certo… Sempre acreditei que ser um administrador fosse uma atividade profissional. Para que seja uma profissão de verdade, tem de ter um elemento que não seja apenas centrado no interesse próprio, mas seja centrado na qualidade da água em que todos nadamos”.

Publicado em: 11/02/2004


[3] TERREMOTO GLOBAL
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Falta de confiança nos balanços de grandes empresas dos EUA abala mercados e afasta investidor estrangeiro do Brasil
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ANA MAGDALENA HORTA
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 http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT344659-1663-1,00.html   Edição 215 - 01/07/02

Não se trata apenas da maior fraude da história corporativa dos Estados Unidos nem do espectro da falência da segunda maior operadora de chamadas de longa distância do país. A divulgação de um rombo de cerca de US$ 4 bilhões nas contas da americana WorldCom, na quarta-feira, fez tremer a terra porque tocou em algo além dos números – mexeu na fé em relação ao que eles representam. Bolsas de valores nos quatro continentes arriaram sob o peso da desconfiança em um sistema de contabilidade que, por longos anos, assinou atestados de saúde para gigantes do mundo empresarial. Para os investidores, deter ações de multinacionais deixou nos últimos dias de ser um negócio com lucro certo e virou um arriscado jogo de roleta-russa.

“O sistema parecia realmente um cassino de vez em quando, mas pelo menos era um cassino honesto”, disse o estrategista do banco de investimentos Merril Lynch, Barton Biggs. “Agora as pessoas estão questionando essa premissa básica.”

O caso WorldCom, imbatível no tamanho do buraco financeiro, é o mais recente de uma série de escândalos envolvendo verdadeiros mitos capitalistas. Empresas recheadas de lucros e consideradas exemplos de administração moderna ruíram ou estão com a reputação para sempre comprometida por causa de manobras ilegais. Quem aplicou dinheiro nelas e acreditou em balanços auditados segundo regras amplamente aceitas possui hoje apenas um punhado de pó nas mãos.

Neste mês, os investidores estrangeiros já reduziram em 30 %o volume de dinheiro colocado na economia brasileira

A WorldCom tem quase US$ 30 bilhões em dívidas com bancos. As instituições mais penduradas – como Citigroup, Bank of America e Chase, que emprestaram mais de US$ 4,5 bilhões aos executivos da companhia – viram o preço de seus papéis despencar junto com os índices das bolsas. A recuperação do dinheiro, afinal, é incerta, mesmo com o anúncio de que, para escapar da forca, a WorldCom vai demitir um quinto da força de trabalho, ou 17 mil pessoas. As ações da empresa já valeram mais de US$ 60. Hoje viraram trocado: estão cotadas em cerca de US$ 0,20.

[4] Universia-Knowledge@Wharton
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