sexta-feira, 26 de março de 2010

Peter Drucker: "Esta é a Era do Conhecimento, a próxima será a Era da Sabedoria. A Sabedoria é o conhecimento temperado com o discernimento".

Matéria publicada no site do Mercado Ético (http://mercadoetico.terra.com.br/colunas.view.php?id=26)

Sabedoria corporativa

ARNOLDO DE HOYOS 
"Esta é a Era do Conhecimento, a próxima será a Era da Sabedoria. A Sabedoria é o conhecimento temperado com o discernimento".
Peter Drucker

A nossa civilização está passando por um momento de intensas, aceleradas e surpreendentes transformações que fazem parte da transição da Era da Informação para a nova Era do Conhecimento. Na Economia da Comunicação, da Informação e do Conhecimento, as grandes corporações, que até pouco tempo atrás determinavam os avanços e o destino da humanidade, hoje em dia vêem-se cooptadas pela dinâmica e os interesses a curtíssimo prazo do Wall Street.

Nessa crise civilizatória, que não é só sócio-econômica mas principalmente moral, velhos paradigmas e estruturas sócio-cognitivas precisam ser rapidamente superados para que possamos lidar com as novas e mutantes realidades tecnológicas, educacionais, organizacionais e socioculturais. As organizações de vanguarda (leading organizations) estão cientes da necessidade de utilizar os avanços das tecnologias da Informação e Comunicação de forma cada vez mais intensa e eficiente para poder facilitar a aprendizagem e o gerenciamento de conhecimento em geral (ERP, CRM, Data Warehouse, ...).

Entretanto, ainda hoje, poucas corporações perceberam que, para realmente aproveitar os acelerados avanços na ciência e tecnologia, vai ser necessária uma verdadeira metamorfose organizacional que implique numa reforma do pensamento, numa transformação da consciência individual e coletiva, com novos níveis de responsabilidade socioambiental; e que tudo isso, por sua vez, irá servir de alavanca para mudanças radicais na cultura organizacional, estimulando a integração sinérgica e a participação de todos os stakeholders através de novas formas colaborativas, cooperativas e co-criativas (groupware, socialware).

Na verdade, como parte desse processo, hoje em dia muitas das grandes corporações apresentam anualmente seu balanço social, têm seus conselhos de ética, procuram certificados ambientais, e já cientes da necessidade da aprendizagem continuada (long life learning) contam com suas universidades corporativas de forma a manterem-se permanentemente atualizadas, aprimorando dia-a-dia as competências de seus colaboradores e equipes de trabalho. Competências essas, no entanto, que significam não só conhecimentos, mas também habilidades e principalmente atitudes.

Dessa forma, gradualmente as modernas organizações de aprendizagem (learning organizations) tentam acompanhar as sábias recomendações dos quatro pilares da UNESCO para a educação do futuro: Aprender a Aprender, Aprender a Fazer, Aprender a Conviver e Aprender a Ser. Isso implica particularmente na elaboração e implementação de claras diretrizes das suas lideranças em termos de investimento, não só no capital intelectual mas também no capital social da corporação.

AS NOVAS LIDERANÇAS

É preciso então desenvolver, nas organizações de vanguarda, um estilo de liderança transformadora que valorize o autoconhecimento e auto-realização individual e coletiva, estimulando o pleno desenvolvimento do potencial humano (mindware e heartware), dando maior sentido e qualidade de vida aos colaboradores e favorecendo a criação da necessária sintonia e sinergia, sempre orientadas por uma ética da diversidade e uma ética da solidariedade.

Esse novo tipo de liderança, que parte de uma consciência expandida (social-ambiental-espiritual), deverá ser capaz de analisar desde uma perspectiva maior, o turbulento e complexo mundo atual e seus possíveis impactos a curto, médio e longo prazo nas organizações e na sociedade em geral; e que na sua procura pela excelência, promoverá ambientes que favoreçam a intuição, a criatividade e o trabalho em equipe para satisfazer a necessidade de rápidas inovações (demanda externa) e adaptações (demanda interna) associadas às transformações organizacionais. Transformações essas sustentadas tanto pelas novas tecnologias (hardwares, softwares, netwares, e knowares), quanto pelo aprimoramento contínuo dos relacionamentos internos e externos associados a maiores níveis de integridade, cooperação, convergência, compromisso e respeito mútuo.

Claramente, nessa transição da nova Sociedade do Conhecimento para a futura Sociedade da Consciência ou da Sabedoria, os CEO´s precisarão contar com seus CIO's (Chief Information Officers ) , CKO´s (Chief Knowledge Officers), e cada vez mais com seus CVM´s (Chief Values Management Officers). Nessa nova Era da Consciência, as lideranças transformadoras serão inspiradas e inspiradoras, co-responsáveis por manter vivos e atualizados não só a missão, a visão e os valores da Organização mas também o flow organizacional, isto é, um estado altamente estimulante e criativo de leveza , clareza , confiança e bem-aventurança.

DA INTELIGÊNCIA COLETIVA À SABEDORIA COLETIVA

No primeiro livro dos Reis conta-se que o jovem líder Salomão fez seu pedido ao Senhor, de um coração compreensivo, capaz de governar seu povo e de discernir com justiça. Deus, observando que não pedia longevidade, riqueza ou poder, deu para ele um coração sábio e inteligente, além de todos os outros benefícios.

Hoje em dia, grandes visionários do ciberespaço e da cibercultura como Pierre Levy, após desenvolverem trabalhos inovadores sobre Inteligência Coletiva e Árvores do Conhecimento, mostram-nos já o outro lado, para além dessa nossa fase de evolução de consciência e organização coletiva, quando atualiza as idéias de noosfera de Theilhard de Chardin, mostrando a aproximação de uma nova etapa de convívio e aprendizado da humanidade na plenitude de uma consciência solidária. Caminhamos na direção de um cérebro global (Peter Russel) , que deverá logo mais se expandir para um coração global.

A importância da competência emocional das lideranças (Daniel Goleman) nas organizações, precedida pela competência intelectual, será logo mais complementada por uma competência transpessoal, na qual o pensamento é mais transracional (Ken Wilber), a abordagem é mais trandisciplinar (E. Morin) e os valores humanos , culturais e espirituais, tais como honestidade, humildade e serviço, são mais prioritários. Os CVO´s (Chief Values Officers ou, melhor ainda, Chief Virtues Officers) serão responsáveis pela vida comunitária e suas inter-relações com o ambiente, mantendo vivo o espírito da organização, conforme deve estar claramente estabelecido na sua carta de princípios, procurando sempre novas formas de promover o bom, o belo e o verdadeiro, como na antiga Grécia. Estas são as bases para o desenvolvimento da sabedoria corporativa na qual cada stakeholder se sentira fraternalmente parte e representara a totalidade, pois como nos revela Theilhard de Chardin:
"No futuro, o ser humano descobrirá o amor, e pela segunda vez, terá descoberto o fogo".


Arnoldo José De Hoyos Guevara é PhD pela Universidade de Califórnia, Berkeley, e Visiting Research Fellow na Universidade de Oxford. Representante para o Brasil do Projeto Milênio da UNU e da World Future Society. Organizador e Responsável pelo Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP e pela ONG Gira Sonhos.

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