terça-feira, 6 de abril de 2010

[ECO] Colapso - Como as sociedades optam entre o fracasso e a sobrevivência. por Jared Diamond - Lições a aprender sobre Sustentabilidade

Car@s, a pesquisa abaixo foi motivada pelo comentário do Sérgio Abranches, na CBN - Ecopolítica, desta manhã.
Não é catastrofismo ecológico, mas um convite à reflexão.
Recomendo ouvir em:
Terça, 06/04/2010

Cidades brasileiras não estão preparadas para o presente, nem para o futuro


Abraço.
Claudio
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Colapso — Como as sociedades optam entre o fracasso e a sobrevivência
por Jared Diamond [*]

Clique a imagem para encomendar o livro.A Gronelândia norueguesa é uma das muitas sociedades antigas que entraram em colapso ou desapareceram, deixando atrás de si, um conjunto de ruínas monumentais como aquelas que Shelley imaginou no seu poema “Ozymandias”. Colapso significa um declínio drástico na dimensão da população e/ou na complexidade política, económica e social, numa área considerável e durante um período de tempo prolongado. O fenómeno dos colapsos é, assim, uma forma extrema de vários tipos de declínio menos acentuados e torna-se arbitrário decidir quão drástica pode ser a degradação dessa sociedade antes de a categorizarmos como colapso. Nalgumas dessas formas de declínio mais suaves estão incluídos os normais pequenos altos e baixos fortuitos e pequenas reestruturações políticas, económicas e sociais de qualquer sociedade; a conquista de uma sociedade por outra vizinha, ou o declínio de uma estar ligado à ascensão de outra sociedade próxima, sem mudanças na dimensão global da população ou na complexidade de toda a região; a substituição ou derrube de uma elite governante por outra. De acordo com estes parâmetros, a maior parte das pessoas consideraria como vítimas importantes de desastres totais, e não apenas pequenos declínios, as seguintes sociedades: os Anasazi e os Cahokia, nas actuais fronteiras dos EUA, os Maias na América Central, as sociedades Moche e Tiwanaku na América do Sul, a Grécia Micénica e Creta Minóica na Europa, o Grande Zimbabué na África, as cidades de Angkor Wat e do Vale Hindu Harappan na Ásia e a Ilha de Páscoa no Oceano Pacífico (ver mapa). 

Clique para ampliar.As ruínas monumentais deixadas por essas sociedades do passado exercem um fascínio romântico em todos nós. Na nossa infância maravilhamo-nos quando as conhecemos através das suas imagens. Quando crescemos, muitos de nós planeamos férias para as vivenciarmos pela primeira vez como turistas. Sentimo-nos atraídos pela sua beleza, muitos vezes espectacular e inesquecível, e pelos mistérios que representam. A dimensão das ruínas testemunha a antiga riqueza e o poder dos seus construtores. Parece que clamam: “Admirai as minhas obras, ó poderosos, e desesperai” como diz Shelley. No entanto, esses construtores desapareceram, abandonando as imensas estruturas que haviam criado com tanto esforço. Como é que uma sociedade, tão poderosa em tempos, pode ter entrado em colapso? Qual foi o destino dos seus cidadãos? Será que eles emigraram e, se for esse o caso, porquê? Ou acabaram por morrer lá de alguma forma horrível? Por detrás deste mistério romântico espreita um pensamento inquietante: poderá tal destino abater-se sobre a nossa próspera sociedade? Será que algum dia turistas se vão estarrecer confundidos perante as gigantescas estruturas decadentes de arranha-céus nova-iorquinos, da mesma forma que hoje nos impressionamos pelas ruínas das cidades Maia conquistadas pela selva? 

Há tempo que se suspeita que muitos desses abandonos misteriosos se deveram, pelo menos em parte, a problemas ecológicos: os homens destruíram inadvertidamente os recursos naturais dos quais as suas comunidades dependiam. Esta suspeita de um suicídio ecológico involuntário – ecocídio – tem sido confirmado por descobertas feitas nas últimas décadas por arqueólogos, climatologistas, historiadores, paleontólogos e palinologistas (cientistas que estudam o pólen). Os processos através dos quais sociedades passadas se autodestruíram pela devastação dos seus ambientes naturais podem ser classificados em oito categorias, cuja importância relativa varia consoante os casos:
 
·   desflorestação e destruição do habitat natural, 
·   problemas do solo (erosão, salinização e perda de fertilidade do solo), 
·   problemas de gestão dos recursos hídricos, 
·   caça excessiva, 
·   pesca excessiva, 
·   efeitos da introdução de novas espécies sobre as espécies autóctones, 
·   aumento demográfico e 
·   aumento per capita do impacto dos seres humanos.

Esses colapsos do passado seguem tendencialmente um percurso semelhante, constituindo variações de um mesmo tema. O crescimento demográfico forçou a população a adoptar meios de produção agrícolas mais intensivos (tais como a irrigação, a duplicação de colheitas ou a introdução dos socalcos) e a expansão da agricultura de zonas mais férteis inicialmente escolhidas, para zonas mais periféricas, de forma a poder alimentar o número crescente de bocas esfomeadas. As práticas insustentáveis conduziram à destruição ambiental de uma ou mais das categorias enumeradas anteriormente, e, mais uma vez, essas terras agrícolas marginais foram, também elas, abandonadas. Socialmente isto trouxe consequências como a escassez de alimentos, fome, conflitos entre demasiadas pessoas disputando tão parcos recursos e o derrube das elites governantes pelas massas descontentes. No fim, a população diminuiu devido à fome, à guerra ou à doença e a comunidade, de alguma forma, perdeu a complexidade política, económica e cultural que tinha atingido o auge. Os escritores são tentados a procurar analogias entre estas trajectórias das civilizações humanas e os percursos de vida dos indivíduos – quando se fala do nascimento, crescimento, auge, senescência e morte de uma sociedade – e a assumir que o longo período de senescência, que a maior parte de nós atravessa entre os anos áureos e a morte, também se aplica às sociedades. Mas essa metáfora é errada para muitas sociedades passadas (e para a moderna União Soviética): depois de atingido o auge em riqueza e poder, o seu declínio brusco foi, ao mesmo tempo, uma surpresa e um choque para os seus cidadãos. Nos piores casos de colapso total, todos os habitantes emigraram ou morreram. Mas é óbvio que não foi esta a trajectória sinistra que todas as sociedades antigas seguiram sem variações até ao seu desfecho: sociedades diferentes declinaram a níveis diferentes e de formas diferentes, enquanto que muitas outras nem sequer sucumbiram. 

Actualmente o risco destes colapsos é matéria de preocupação crescente. Na realidade, tais situações já se materializaram na Somália, no Ruanda e noutros países do Terceiro Mundo. Muitos temem que o ecocídio venha a sobrepor-se à guerra nuclear e às doenças emergentes como a grande ameaça à civilização mundial. Os problemas ambientais que hoje enfrentamos incluem os mesmos oito que minaram as sociedades passadas e mais quatro novos:
 
·   alterações climáticas provocadas pelo Homem, [1]
·   concentração de produtos químicos tóxicos no ambiente,
·   escassez de recursos energéticos e
·   o uso total, por parte do Homem, da capacidade fotosintética do planeta.

Afirma-se que a maior parte destas doze ameaças atingirão um estádio crítico à escala mundial nas próximas décadas. Entretanto, ou solucionamos estes problemas ou eles afectarão não só países como a Somália, mas também as sociedades do Primeiro Mundo. Muito mais provável do que um cenário do Dia do Juízo Final com a extinção da raça humana ou colapso apocalíptico da civilização industrial, seria “simplesmente” um futuro com a degradação significativa dos níveis de vida, com ameaças constantes cada vez maiores e a desagregação daquilo que hoje consideramos como alguns dos nossos princípios fundamentais. Um tal colapso poderia assumir diferentes formas, tais como a disseminação de epidemias ou, então, de conflitos bélicos à escala global, despoletados pela escassez dos recursos ambientais. Se este raciocínio estiver correcto, nesse caso, os nossos esforços hoje serão determinantes para o estado do mundo no qual a actual geração de crianças e jovens adultos viverão a sua meia-idade e velhice. 

No entanto, é com grande vigor que se debate a gravidade dos actuais problemas ambientais. Será que os riscos são demasiadamente ampliados ou, pelo contrário, estão subestimados? Será racional pensar que a actual população mundial de cerca de 7 mil milhões, com toda a potente tecnologia moderna de que dispõe, está a destruir o ambiente à escala planetária a um ritmo muito mais rápido do que uns meros milhões de pessoas, com instrumentos de pedra e madeira, o haviam feito no passado a nível local? Será que a tecnologia actual irá resolver os nossos problemas ou está a criar novas ameaças mais depressa do que soluciona as antigas? Quando esgotamos um recurso (por exemplo: a madeira, o petróleo ou as reservas piscícolas naturais), seremos capazes de o substituir por um recurso novo (por exemplo: o plástico, as energias solar e eólica ou a aquicultura)? Não estará a taxa de crescimento populacional a abrandar, de tal forma que está já a estabilizar num número controlável?
 

Todas estas interrogações ilustram a razão pela qual esses famigerados declínios de civilizações antigas alcançaram um significado mais vasto que ultrapassa o do simples mistério romântico. Talvez possamos aprender algumas lições mais práticas de todos esses colapsos passados. Sabemos que algumas sociedades antigas desapareceram enquanto outras sobreviveram: o que tornou algumas comunidades particularmente vulneráveis? Quais foram, exactamente, os processos que levaram essas sociedades a cometer ecocídio? Porque é que algumas dessas comunidades não conseguiram antever o buraco onde se metiam e que, pensando retrospectivamente, deveria ter sido óbvio? Quais foram as soluções que resultaram no passado? Se tivéssemos respostas para estas perguntas, poderíamos, talvez, identificar quais sociedades se encontram hoje em maior risco e quais as medidas mais adequadas para as ajudar, sem estar à espera de mais casos como o da Somália.
 

Contudo, há diferenças entre o mundo moderno e as sociedades passadas e os seus respectivos problemas. Não podemos ser tão ingénuos ao ponto de pensar que o estudo do passado fornecerá soluções fáceis, directamente aplicáveis nas nossas sociedades actuais. Divergimos dessas civilizações antigas em alguns aspectos que nos colocam em menor risco. Alguns desses aspectos, já mencionados, incluem a nossa poderosa tecnologia, ou antes, os seus efeitos benéficos, a globalização, a medicina moderna e o conhecimento mais vasto de sociedades antigas e de sociedades modernas mais distantes. Mas também somos diferentes noutros domínios que nos levantam perigos maiores. Nesta linha temos, novamente, a nossa tecnologia poderosa, ou antes, os seus efeitos destrutivos inesperados, a globalização (de tal forma que, hoje, um colapso, por mais remoto que seja como o da Somália, afecta os EUA e a Europa), a dependência que milhões (e, brevemente, milhares de milhões) de nós temos em relação à medicina moderna para a nossa sobrevivência e a população muito mais vasta. Talvez ainda possamos aprender com o passado, mas só se ponderarmos bem sobre as suas lições.
 

Os esforços para compreender o passado têm de enfrentar uma grande controvérsia e quatro complicações acrescidas. Controvérsia pela resistência à ideia de que os povos passados (sabendo-se que alguns deles são ascendentes de povos que ainda existem e activos) fizeram coisas que conduziram ao seu próprio declínio. Hoje temos maior consciência dos danos ambientais do que há umas décadas atrás. Até os avisos em hotéis invocam o respeito pelo ambiente e induzem-nos sentimentos de culpa quando pedimos toalhas lavadas ou deixamos a água a correr. Prejudicar o ambiente é, nos dias que correm, moralmente condenável. 

Não é de admirar que os nativos havaianos e os maoris não gostem que os paleontólogos lhes digam que os seus antepassados exterminaram metade das espécies de aves que se reproduziram no Havaí e na Nova Zelândia, da mesma forma que os nativos americanos não gostam que os arqueólogos lhes digam que os Anasazi desflorestaram partes do sudoeste dos Estados Unidos. As pretensas descobertas de paleontólogos e arqueólogos soam aos ouvidos de alguns como mais um argumento racista utilizado pelos brancos para espoliar os povos indígenas. É como se os cientistas afirmassem que “os vossos antepassados foram maus guardiães das suas terras, por isso mereceram ser expropriados”. Na verdade, alguns brancos americanos e australianos, ressentidos com as compensações monetárias estatais e a devolução de terras aos nativos americanos e aborígenes australianos, agarram-se a estas teorias para avançarem com esse argumento. Não só os povos indígenas, mas também alguns antropólogos e arqueólogos que os estudam e que com eles se identificam, vêem estas pretensas descobertas recentes como calúnias racistas.
 

Alguns dos povos indígenas e desses antropólogos que neles se revêem, apontam na direcção oposta. Insistem que os antigos povos nativos, tal como os actuais, eram guardiães diligentes e ecologicamente ponderados do meio ambiente, conheciam e respeitavam profundamente a Natureza, viviam inocentemente num Jardim do Éden idílico e nunca poderiam ter causado tanto mal. Como uma vez um caçador da Nova Guiné me contou: ”Se um dia eu consigo matar um pombo grande numa certa zona da nossa aldeia, espero uma semana antes de voltar a matar pombos e nessa altura vou para outra zona da aldeia.” Só os habitantes maldosos do mundo desenvolvido não conhecem a Natureza, não respeitam o ambiente e destroem-no.
 

Na realidade, ambos os extremos desta polémica – os racistas e os crentes num Éden passado – cometem o erro de considerar os povos indígenas antigos como essencialmente diferentes dos actuais povos do Primeiro Mundo, quer sejam superiores ou inferiores. Gerir os recursos naturais de forma sustentável tem sido sempre
 difícil, desde que o Homo Sapiens desenvolveu a criatividade moderna, a eficiência e as aptidões para a caça há cerca de 50 000 anos atrás. Logo desde a primeira colonização humana do continente australiano há 46 000 anos e a subsequente extinção rápida da maior parte dos antigos marsupiais gigantes da Austrália e outros animais de grande porte, até todas as ocupações humanas de massas de terra nunca antes pisadas pelo Homem – quer seja na Austrália, na América do Norte, Madagáscar, nas ilhas mediterrânicas, no Havaí ou na Nova Zelândia ou, ainda, em algumas dezenas de outras ilhas do Pacífico –, sempre se seguiram ondas de extinção de animais de grande porte que se tinham desenvolvido sem qualquer medo dos homens e, por isso, se tornaram alvos fáceis ou, então, sucumbiram às alterações de habitat provocadas pelo Homem, pela introdução de espécies parasitas e doenças. Qualquer pessoa pode facilmente cair na armadilha da sobre-exploração dos recursos naturais devido a problemas omnipresentes que se abordarão mais à frente: porque os recursos, à primeira vista, parecem inesgotavelmente abundantes; porque os sinais do seu depauperamento inicial são mascarados por flutuações normais das reservas disponíveis durante anos ou décadas; porque é difícil levar as pessoas a concordar em pôr em prática restrições no usufruto de um recurso comum (a chamada tragédia dos “comuns”, que veremos em capítulos posteriores); e porque a complexidade dos ecossistemas faz com que as consequências de qualquer perturbação de origem humana se tornem virtualmente impossíveis de predizer, mesmo para um ecologista profissional. Se hoje os problemas ambientais são difíceis de gerir, muito mais o eram no passado. Especialmente para os povos antigos, sem qualquer formação e que não poderiam conhecer os estudos dos declínios de civilizações, a destruição ecológica constituiu-se como uma consequência trágica, imprevisível e involuntária do seu melhor esforço, mais do que o resultado de uma cegueira moralmente condenável ou de um egoísmo consciente. As sociedades que sucumbiram eram – tal como os Maias – das mais criativas e – durante algum tempo – das mais evoluídas e bem sucedidas da sua era e não uns primitivos imbecis. 

Os povos antigos não eram nem maus gestores ignorantes que mereciam ser exterminados ou espoliados, nem ambientalistas sábios e conscientes que resolviam problemas que hoje ninguém consegue. Eram pessoas como nós, com dificuldades, em muito, semelhantes às que hoje enfrentamos. Tinham tendência, quer para o êxito, quer para o fracasso, em conjunturas semelhantes àquelas que nos fazem prosperar ou falhar. É verdade que há diferenças entre a situação que defrontamos hoje e aquela em que viviam os povos antigos, mas ainda há semelhanças suficientes para que possamos aprender com o passado.
 

Acima de tudo, parece leviano e perigoso invocar suposições históricas sobre práticas ambientais de povos nativos que sirvam de argumento para os tratar com justiça. Em muitos, ou na maioria dos casos, historiadores e arqueólogos têm descoberto provas surpreendentes de que esta suposição (sobre o ambientalismo tipo Éden) é errada. Ao invocar esta ideia para justificar uma abordagem correcta dos povos nativos, então teríamos de admitir que, se tal ideia pudesse ser refutada, seria aceitável denegri-los. Na realidade, a questão contra o descrédito dos povos indígenas não é baseada em nenhuma verdade histórica sobre as suas práticas ambientais. A questão centra-se num princípio ético, nomeadamente, o de que é moralmente condenável que um povo espolie, subjugue ou extermine outro povo.
[1] Ver Aquecimento global: uma impostura científica , de Marcel Leroux. 

[*]
 Biólogo, fisiólogo e escritor americano . Autor de Guns, Germs, and Steel (1997), obra que ganhou o Prémio Pulitzer. 

O original encontra-se nas páginas 3 a 10 do livro
 Collapse: How Societies Choose to Fail or Survive http://www.assoc-amazon.fr/e/ir?t=resistirinfo-21&l=ur2&o=8 , de Jared Diamond, Penguin Books, Londres, 2006, 576 pgs., ISBN 0-140-27951-2.   Tradução de PL. 

Este texto encontra-se em
 http://resistir.info/ .

“ COLAPSO”: Questões sobre o mercado contemporâneo.  

Rodrigo Baldin (
rodrigobaldin@yahoo.com.br)
             
 “COLAPSO”, o mais novo livro do ganhador do Prêmio Pulitzer Jared Diamond, representa, na prática, o manual de instruções da enorme bomba relógio chamada Planeta Terra. O tom catastrófico é tão nítido que a edição brasileira acrescentou o sub-título: “Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”.  
          
Estruturado em quatro temas, o livro deve grande parte da sua força e impacto à segunda e terceira partes, respectivamente “Sociedades do Passado” e “Sociedades Modernas”. A primeira parte, embora relevante, tem um tom mítico que mais parece a  introdução para uma grande jornada começando pelo quintal de casa, e no caso o quintal é “Montana Contemporânea”, terra na qual o autor viveu muitos anos. Já a última parte, “Lições Práticas”, que deveria ser o clímax e desfecho da obra, fica comprometida pela falta de uma análise social mais profunda, sendo o autor eminentemente um cientista bioquímico, distante das ciências sociais.            
Sem dúvida, a lucidez de análise do autor está baseada em duas constatações:

 1) Como todos nós, em geral, entendemos bem os problemas que nos afligem diretamente e
2) Como os norte-americanos, em especial, entendem mal a realidade dos outros.
            
O grande leitmotiv de todo o discurso de Diamond está colocado, muito acertadamente, na questão sobre o uso dos recursos disponíveis. O sobre-uso, ou uso acima da capacidade de renovação natural de um recurso, leva, fatalmente, à exaustão. Então, trata-se de entender quanto e como fazer uso dos recursos renováveis para que eles não se esgotem jamais, atingindo o famoso desenvolvimento sustentável. O próprio Diamond diz sem rodeios que “o nível de consumo não pode ser o mesmo dos países de primeiro mundo em todos os países”. Ora, se tal consumo mundial um dia acontecesse, e os conservadores de todos os gêneros estão sempre aí prontos para evitar, os recursos seriam esgotados muito rapidamente, gerando o caos e nos levando a todos para o colapso. 

Sociedades antigas, problemas atuais.  

Algumas sociedades analisadas foram pequenas, como as Ilhas de Páscoa, Pitcarin e Henderson no meio do Oceano Pacífico. Outras, sociedades muito maiores como os Maias e a Groenlândia Nórdica ocupada pelos antigos Vikings.            

Nessa seqüência, temos dois temas:
1) Como sociedades diferentes conseguiram resultados tão diferentes em ambientes iguais (Como os Vikings e os Inuits na Groenlândia Nórdica) e
2) Qual o grau de responsabilidade do grupo social, se é que ele é significativo, no desenvolvimento ou no colapso de uma sociedade.            

O primeiro tema mostra como os vikings sucumbiram, a despeito desse colapso ter durado alguns séculos, enquanto grupos inuits conseguiram permanecer na região até os dias atuais. A resposta está numa mistura de inadaptabilidade, desinteresse em aprender, comodismo, falta de conhecimento técnico (ou “falso” conhecimento técnico) e heranças culturais problemáticas. Percebeu-se, por exemplo, que os inuits tinham equipamentos para a pesca e para a caça à foca muito mais eficientes que aqueles pertencentes aos vikings. Vale ressaltar que a foca ainda é o alimento mais farto daquela região, tal como à época viking. Ainda assim, os vikings jamais adaptaram seusutensílios, num misto de desinteresse e ojeriza pelo hábito de comer foca. Afinal, eles vinham da Europa e só em último caso a incorporavam ao seu cardápio, considerada alimento de menos prestígio. Não por acaso, certamente, as análises dos monturos de lixo comprovam a tendência crescente de aparecerem mais e mais ossos de foca, conforme a sociedade viking ia declinando e o desespero aumentando. Enquanto havia fartura, tudo ia bem. No desespero todos se comportaram como iguais.            

Já o segundo tema, na verdade uma indagação, deixa as pistas para um destino social em parte inexorável, mas que tem ampla influência na tomada de decisões da sociedade. Em outras palavras, existem condições às quais não se pode alterar, ao menos no curto prazo, e a elas a sociedade deve escolher entre a aceitação, e conseqüentemente a adaptação, ou o isolamento, resultando no colapso ou na fuga.            

Os habitantes da Ilha de Páscoa, outrora uma civilização pujante e conhecida até os nossos dias por suas incríveis estátuas de pedra feitas na era pré-motor, exauriram seus recursos deliberadamente, cortando, por exemplo, todas as árvores existentes. Isso transformou o cenário da ilha, até aquela época um manto de florestas, numa grande planície descampada, e isso é especialmente catastrófico para uma sociedade, como Páscoa, absolutamente dependente da madeira. Estudos apontam guerras entre tribos rivais como sendo a principal causa dessa atitude desesperada, na luta por construírem mais e mais estátuas, símbolo de poder.

A gravidade é tal que Diamond se pergunta “O que estava pensando essa pessoa que cortou a última árvore de Páscoa?”. O alerta nos cabe, ou temos alguma dúvida da insanidade de muitos dos nossos “governantes” na sua sede de poder e glória?            

O capítulo sobre Ruanda, porém, é pouco denso na análise. Nem sequer consta que a África ainda é protetorado, na prática, das grandes potências econômicas. Nem muito menos se analisam as questões do tráfico, tanto de armas quanto de drogas, ou mesmo das calamidades sanitárias africanas. Nada. Ruanda surge como outro país isolado, sem influências (massacrantes) externas.            

Por fim, temos a certeza de ter em mãos um livro indispensável ao estudos das sociedades, tanto visando seu desenvolvimento quanto seu eventual colapso.
  
Publicado em: março 28, 2007

---------- Forwarded message ----------
From:
 Claudio Estevam Próspero 
Date: 2005/10/19
Subject: Colapso global pode ser evitado
To:


26/09/2005 - 09h00

"Colapso" lança ambiente ao centro do debate sobre o futuro da sociedade

CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S. Paulo

Alô, George W. Bush: se o estrago causado pelo furacão Katrina nos EUA ainda não fez você acordar para o aquecimento global, está na hora de ler "Colapso". A nova obra do biogeógrafo e best-seller americano Jared Diamond, que acaba de aportar nas livrarias brasileiras, traz um recado urgente e fundamental para a civilização humana do século 21: se ela quiser chegar ao 22, precisa mudar seu relacionamento com o ambiente.

Quem duvida olhe para trás. Diamond reconstrói a trilha dos fracassos ambientais que acabaram fazendo civilizações outrora grandiosas entrarem em colapso. Os cadáveres contados pelo autor, com a ajuda do estado da arte do conhecimento arqueológico e paleoclimático, vão dos maias aos escultores da ilha de Páscoa, dos vikings da Groenlândia aos anasazi do sudoeste dos EUA.

Sociedades culturalmente, cronologicamente e geograficamente diversas, mas com pelo menos cinco fatores em comum em seu declínio: danos ambientais, mudança climática, vizinhos hostis, problemas com parceiros comerciais e, por último mas não menos importante, respostas culturais desastrosas aos itens anteriores.

Em "Colapso", Diamond retorna à tentativa ousada de fazer uma "história natural" da história humana, eliminando a fronteira entre os estudos sociais e ciências como a geologia, a arqueologia e a evolução. Seu primeiro mergulho nessa cientifização do passado foi o estrondoso "Armas, Germes e Aço", no qual o biólogo atribuiu o triunfo da civilização européia a fatores geográficos e ambientais. Seu novo livro, lançado nos EUA em 2004, faz o caminho inverso.

Claro, os colapsos históricos são contrapostos a histórias de sucesso, antigas e modernas. Talvez o contraste mais impressionante seja entre a ilha de Páscoa e o Japão, ambas sociedades complexas que floresceram em ilhas do Pacífico. Os habitantes de Páscoa (Rapa Nui, na língua local) ficaram famosos pelas gigantescas estátuas de pedra que construíram, os moai. Acontece que, no apogeu do período de construção dos moai --e talvez por causa dela--, Páscoa foi completamente desmatada. A falta de árvores, até hoje característica da ilha, levou a fome e mortandade em massa.

O mesmo problema de desmatamento ameaçava o Japão da era Tokugawa na mesma época, entre os séculos 17 e 18. A resposta dos shoguns foi diferente: o governo iniciou um processo maciço de reflorestamento que fez do Japão um dos países mais verdes do mundo -80% de seu território é coberto por florestas hoje.

Qual é a mensagem para George W. Bush e outros líderes mundiais? O planeta vive uma enorme encruzilhada ambiental, agravada pela globalização e pelo efeito estufa, pelo esgotamento dos solos para a agricultura, pela perda acelerada de habitats e pela superpopulação. O mundo forçosamente vai sair dessa encruzilhada nas próximas décadas, aposta Diamond. Se como os japoneses ou como os rapa nui, é uma questão de escolha.



11/03/2005 - 10h14

Colapso global pode ser evitado, diz biólogo
SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, na Califórnia

Não, nossa sociedade tal como a conhecemos não deve acabar em colapso. Se tomarmos providências. É o que diz o biogeógrafo norte-americano Jared Diamond, 67, professor da Universidade da Califórnia, morador de Los Angeles e estrela de uma nova categoria de acadêmicos que vêm sendo chamados de historiadores ambientais. "Como civilização, nós temos problemas muito sérios, mas de possível resolução", falou à Folha. "Tudo o que temos de fazer é decidir que nós queremos resolver estes problemas."

Diamond é bem mais alarmista em seu livro recém-lançado, "Collapse - How Societies Choose to Fail or Succeed" ("Colapso - Como Sociedades Escolhem Falhar ou Ser Bem-sucedidas", editora Viking), que já está na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times". O que não é um fato inédito para o autor de "Armas, Germes e Aço", talvez o maior best-seller evolucionista dos últimos anos, ganhador do prestigioso prêmio Pulitzer.

No anterior, teorizava sobre como a sociedade européia se sobrepôs às outras; no atual, que deve ser lançado no Brasil no segundo semestre, estuda civilizações do último milênio para saber o que diferencia as que se deram bem das que se extinguiram. A unir os livros e a resposta às suas perguntas? Ambiente, ambiente, ambiente. Fatores ecológicos, mais freqüentemente que guerras ou política, determinam o sucesso e o fracasso de povos, acredita. Leia a seguir entrevista telefônica com Diamond:

Folha
 - Vou começar com uma pergunta que o sr. talvez esteja cansado de responder, mas é inevitável: como civilização, estamos condenados ao colapso?

Jared Diamond
 - Não, nós não estamos condenados ao colapso, senão eu  não teria escrito mais um livro e sim me suicidado. Em vez disso, diria que como civilização nós temos problemas muito sérios, mas de possível resolução. Tudo o que temos de fazer é decidir que nós queremos resolvê-los.

Folha
 - Qual seria nosso problema principal, então?

Diamond
 - Não quero ser irônico ao responder isso, mas nosso problema principal é buscar um problema principal para resolver. Não temos um só problema, mas doze. Se nos concentrarmos em apenas um e esquecermos os outros onze ou vice-versa, estaremos perdidos da mesma maneira. Por exemplo, se resolvermos a escassez de petróleo e as mudanças climáticas mas não lidarmos com a questão da água, esta sozinha pode nos destruir.

Folha
 - No livro, o senhor examina civilizações antigas e novas e os motivos de algumas delas terem sido bem-sucedidas e outras não. No final, o motivo parece estar sempre ligado a alguma causa ambiental. Não é um reducionismo, um certo determinismo ecológico?

Diamond - Não concordo inteiramente. Este é o problema de ter um título chamativo e pequeno para um livro. Você, no caso o seu editor, tem de escolher a palavra mais impactante, "Colapso!", pois não existem livros com títulos de sete páginas, como eu gostaria de ter batizado o meu. Um título mais completo diria que este livro é sobre civilizações, ponto. Algumas delas deram certo, e eu procuro examinar o porquê, e outras deram errado, idem. Nem sempre por problemas ambientais.

Veja, por exemplo, o colapso do Paraguai no século 19. A sociedade paraguaia foi destruída não por conta de alguma questão ambiental, mas por ter tomado algumas decisões estúpidas que levaram o país à guerra contra os vizinhos Bolívia [Uruguai, na verdade], Argentina e Brasil simultaneamente. Não foi uma boa idéia, a maioria dos homens paraguaios morreu. Outra civilização citada é a União Soviética, que entrou em colapso há apenas doze anos. Sim, houve  desastres ambientais na ex-URSS, mas não foram decisivos para o fim do país: a política foi.

Um título melhor para o livro seria: "O Colapso de Sociedades Envolvendo um Componente Ambiental e em Alguns Casos Contribuições de Mudança de Clima, Vizinhos Hostis, Parceiros Comerciais, Mais um Questionamento sobre a Resposta da População".

Folha
 - O sr. citou a escassez do petróleo, então quero fazer uma provocação: a SUV (picape campeã de consumo de gasolina e emissão de gás carbônico que é coqueluche entre os americanos) vai destruir os EUA?

Diamond
 - (Risos) Não, a SUV sozinha não vai destruir os EUA, é apenas uma das coisas que os EUA estão fazendo errado. Se nós resolvemos todos os outros problemas que devem nos levar à destruição como civilização, podemos nos dar ao luxo de manter esses carrões rodando. Mas se nos livrarmos de todas as milhões de SUVs que rodam no país hoje e não fizermos mais nada em relação ao resto, corremos o risco do colapso.

Folha
 - Há quem argumente que as inovações tecnológicas, que adquiriram uma velocidade e uma acessibilidade inéditas em nossa era, nos salvariam do tal colapso. O sr. concorda? 

Diamond - Não, na verdade acho que é exatamente o contrário. As pessoas usam a desculpa, a esperança dos avanços tecnológicos para continuar com o mesmo estilo de vida baseado no desperdício. Quer um exemplo? A SUV. Eis um grande avanço tecnológico em termos automobilísticos. Mas não está nos ajudando como civilização, está? OK, estou sendo ranzinza. A tecnologia pode ter alguma contribuição positiva. Para ficarmos no campo da energia, poderemos descobrir uma maneira mais eficiente de usar o vento ou a maré para nos ajudar a reduzir nossa dependência dos combustíveis fósseis...

Folha
 - Sua base são civilizações passadas e pequenas, como a da ilha de Páscoa. Como é possível fazer a conexão com sociedades maiores e mais complicadas como a de hoje?

Diamond
 - Você tem razão no caso da ilha de Páscoa, mas discuto também a maior civilização do Novo Mundo, os maias. Eram cerca de 50 milhões, não tantos quanto os brasileiros de hoje, mas eles deram um jeito de se destruir. Entre os casos bem-sucedidos, cito o Japão, que também não é tão grande quanto o Brasil, mas sobreviveu isolado, pois resolveu seus problemas florestais no século 16.

Folha
 - O sr. diz que quando estuda o colapso de uma sociedade procura por cinco características comuns: o grau e a natureza do dano ambiental; o grau e a natureza das mudanças climáticas; o nível de hostilidade das sociedades vizinhas; o grau de confiabilidade dos parceiros comerciais; e a resposta da sociedade aos seus problemas. Há algum país hoje que preencha negativamente todos esses itens? 

Diamond - Sim, há hoje em dia cerca de 25 países em que eu encontro essas características de maneira negativa. Um deles? O Haiti, que divide a ilha de Hispaniola com a República Dominicana. O país tem problemas terríveis de desflorestamento, o que causou mudanças de clima, com a redução da quantidade de chuva. Aliás, o Brasil vai enfrentar ou já enfrenta problema semelhante, por conta da Amazônia. Mas voltando ao Haiti: eles têm inimigos, moderados, mas inimigos, e não há muitas nações amigas dispostas a ajudar o país. Por fim, o Haiti tem problemas com a resposta da população à mudança: uma elite
política e econômica interessada em continuar rica e poderosa e não em resolver os problemas do país e de seu povo.

Folha
 - O Brasil está na lista?

Diamond
 - (Irônico) Não, tenho absoluta convicção de que a elite política brasileira está mais interessada em ajudar o povo do que em enriquecer.

Folha
 - Assim como vem fazendo a administração de Bush?

Diamond
 - (risos) Exatamente! Você capturou o espírito.

Folha
 - Já esteve no Brasil?

Diamond
 - Infelizmente, não. Fui convidado algumas vezes, e penso em ir. Mas estive em Iquitos, na Amazônia peruana.

Folha
 - Tendo visto in loco a floresta, qual seu prognóstico?

Diamond
 - Vejo muitas possibilidades. É o complexo biológico mais rico da Terra, o ambiente que tem mais plantas e espécies animais do planeta e na parte brasileira vejo a mais rica floresta do mundo, uma farmácia a céu aberto. Mas a floresta amazônica sobrevive de sua grande quantidade de chuva. Quando você corta as grandes árvores, diminui a quantidade de chuva. Vejo problemas ainda na riqueza do solo, cujos nutrientes vêm principalmente dessas grandes árvores, que estão sendo cortadas. Esse é o maior problema no Brasil hoje.

Folha
 - Há colegas seus de academia que dizem que a próxima guerra será por água, não por petróleo.

Diamond
 - Não necessariamente. Há muito pelo que ir à guerra ainda. Há lugares em que a próxima guerra será causada por fome. Mas concordo que a água já é um problema sério. Síria e Turquia, aliás, China e Bangladesh e Vietnã, EUA e México, Hungria e Eslováquia, todos já estão brigando por água. Mas a grande guerra do petróleo ainda está longe de acabar. A Venezuela, um dos maiores exportadores para os EUA, anunciou na semana passada que assinou acordo de fornecimento com a China. Eis um potencial conflito entre China e Estados Unidos.

Folha
 - Por fim, o sr. acha que a reeleição de Bush contribui para o colapso das civilizações?

Diamond
 - Eu tenho ouvido muito esta pergunta desde novembro último. (Risos). Tenho duas respostas. Primeiro, ao escrever meu livro não quis pregar aos convertidos, a quem já aceita que vivemos um grande problema ambiental, mas convencer os que discordam dessa idéia. E, se eu quero convencer estas pessoas, é importante que eu não insulte George W. Bush e quem pensa como ele. E já deu resultados: eu comecei a ser procurado por ministros e parentes próximos do presidente sobre o assunto.

Segundo, lembre-se de que o presidente não é a única pessoa que determina a política ambiental do país. Há os Estados, e muitos têm políticas avançadas. Por exemplo, a Califórnia; Schwarzenegger está processando a União e está sendo processado de volta em diversas questões ambientais.

Ver também:

abordagem psicológica da evolução das culturas
Livro Colapso de Jared Diamond complementa abordagem psicológica da evolução das culturas
5, fevereiro, 2009

[História] Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso – Jared Diamond
Postado por: PDL  /  Categoria: História GeralTécnicos e Científicos

O que é mais assustador do que o espectro do colapso de uma civilização – os restos dos templos abandonados de Angkor Watno território do Camboja das cidades maias tomadas pela selva ou a vigília sombria das estátuas da ilha de Páscoa?

As imagens dessas ruínas sugerem a pergunta: Será que isso também não pode acontecer conosco?

Abordando desde a cultura da Polinésia pré-histórica na ilha de Páscoa às outrora florescentes civilizações nativas americanas dos anasazis e maias, analisa as causas da decadência da colônia viking medieval na Groenlândia e chega ao mundo moderno. Com isso traça um panorama catastrófico e mostra o que acontece quando desperdiçamos nossos recursos ignoramos os sinais de nosso meio ambiente, quando nos reproduzimos rápido demais ou cortamos árvores em excesso. Danos ambientais, mudanças climáticas, rápido crescimento populacional, parcerias comerciais instáveis e pressões de inimigos foram fatores na queda de algumas sociedades, contudo outras encontraram soluções para esses mesmos problemas e subsistiram.

Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso – Jared Diamond (Ilustrado)
Digitalizado por Papyrus Digitais
DOWNLOAD: Rapidshare – Easyshare

Colapso: Ascensão e Queda das Sociedades Humanas
O que terá dito o ilhéu da Páscoa que cortou a última palmeira, enquanto o fazia? À semelhança dos lenhadores modernos, terá gritado: “Emprego sim, árvores não!”? Ou: “A tecnologia vai resolver os nossos problemas. Nada temam, havemos de encontrar um substituto para a madeira”? Ou: “Não temos provas que não hajam mais palmeiras algures na ilha, temos de fazer mais pesquisas, a vossa proibição de cortar árvores é prematura e provocada por medos irracionais”?

Existem inúmeras razões para cortar a última palmeira. Questões semelhantes surgem frequentemente em todas as sociedades que prejudicam inadvertidamente o seu ambiente. O livro, apesar de longo, é de leitura agradável e verdadeiramente interessante.

Diamond, Jared. Colapso: Ascensão e Queda das Sociedades Humanas. Lisboa: Gradiva, 2008.-- 


Entrevista com Jared Diamond


Eu já tinha feito uma resenha do livro Collapse de Jared Diamond quando saiu a primeira edição nos Estados Unidos. Foi por acaso. Eu estava lendo a obra que havia comprado na Amazom, no fumódromo do andar das revistas INFO e EXAME da Abril, por puro dilentantismo e o Nelson Blecher, da EXAME, me encomendou a resenha.

Quando saiu a tradução brasileira, no fim de agosto, resolvi perguntar ao Diamond, por e-mail, algumas coisas que não aparecem no livro, nem nas várias entrevistas que ele deu desde então. Por exemplo, a posição tolerante dele em relação à energia atômica, algo que surpreende os leitores ecologistas, a maioria deles fãs de Diamond. Também sobre sua posição militante contra o racismo, que tem aparecido com pouco destaque.

E também sobe algo que ouvi uma vez ao visitar as ruínas maias no México: um turista brasileiro comparou as impressionantes pirâmides engolfadas pela selva com a ausência desse tipo de construção nas culturas nativas brasileiras. Seria isso um sinal da legendária e atávica preguiça brasileira materializada nos nossos macunaímas?

Foi uma dúvida desse tipo, perguntada por um nativo da Papua Nova Guiné que levou Diamond a escrever seu primeiro livro de grande sucesso, o Armas Germes e Aço, ganhador do prêmio Pulitzer. Em vez de invocar a indolência para explicar as diferenças no desenvolvimento das civilizações, Diamond construiu um sistema de referências científicas da biogeografia nas mais de mil páginas de Armas, Germes e Aço e Colapso, que chegou às livrarias brasileiras no final de agosto.    



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