quinta-feira, 15 de abril de 2010

Gestão (Governança) de Organizações Governamentais, Privadas e do Terceiro Setor - discrepância que há entre a realidade econômica e o que se denomina "a sabedoria convencional".


Gestão (Governança) de Organizações Governamentais, Privadas e do Terceiro Setor - discrepância que há entre a realidade econômica e o que se denomina "a sabedoria convencional".



Car@s, boa noite.

    Respeito muito a visão de alguns homens, provada pelo tempo. John Kenneth Galbraith, como pode ser percebido por quem se dispuser a compreender suas idéias, é um destes homens que enxergaram as conseqüências das tendências dominantes em sua época - "O futuro que já aconteceu" - como definia Peter Drucker.

    Partilho alguns trechos de pesquisas efetuadas motivadas pela questão expressa na frase do assunto desta mensagem:
  • Gestão (Governança) de Organizações Governamentais, Privadas e do Terceiro Setor - discrepância que há entre a realidade econômica e o que se denomina "a sabedoria convencional".

    Hoje temos a capacidade de enxergar melhor o "funcionamento do relógio tecno-burocrático / financeiro", cujos excessos foram denunciados por Galbraith, dentre outros, por estarmos vivendo as conseqüências desses excessos : a Crise Financeira

    Será que aprenderemos a lição?

Um abraço.
Claudio

Revista de Economia Contemporânea
Print version ISSN 1415-9848
Rev. econ. contemp. vol.9 no.2 Rio de Janeiro May/Aug. 2005
doi: 10.1590/S1415-98482005000200009 
Fraudes inocentes e o saber convencional: a economia do nosso tempo

Eneuton Pessoa de Carvalho
Professor da UERGS - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, e-mail:eneuton@uol.com.br
Resenha do livro A economia das fraudes inocentes: verdades para o nosso tempo, de John Kenneth Galbraith
São Paulo: Companhia das Letras, 2004, 84 p.

John Kenneth Galbraith dispensa apresentações. Aos 96 anos, 70 dos quais voltados à economia, Galbraith brinda o leitor com interessante opúsculo a respeito da discrepância que há entre a realidade econômica e o que denomina "a sabedoria convencional".
O livro é provocativo do início ao fim. Começa perguntando como é possível a fraude inocente, ou como a inocência pode ser fraudulenta. Se há inocência, ela está a indicar ausência do sentimento de culpa ou responsabilidade. Se há fraude, ela remete à deturpação, mais ou menos deliberada, da realidade. A ocorrência simultânea de ambas é decorrência, em parte, do senso comum sobre a atividade econômica e, em parte, da teoria econômica tradicional e do seu ensino, voltados para modismos e a justificação de interesses. Esta é a idéia-síntese que permeia a obra A economia das fraudes inocentes.
No decorrer dos capítulos, o autor identifica fraudes sob a forma de "crenças para benefício próprio e contra-sensos deliberados". Um exemplo de contra-senso deliberado é a substituição, na designação de sistema econômico, de capitalismo por "sistema de mercado". A conotação de poder e dominação que o termo capitalismo evoca vê-se omitida pelo termo "sistema de mercado", amplamente aceito porque encobre o significado historicamente negativo do termo capitalismo. Dentre as crenças fraudulentas mencionadas por Galbraith, destaca-se a de "soberania do consumidor", em descompasso com a realidade da grande empresa, com seu poder de mercado e de controle sobre o consumidor, por meio da propaganda e do marketing. Seguem-se a falsa idéia da existência de um único mundo do trabalho; a propalada dicotomia entre os setores público e privado: o reino da política versus o da economia; a idéia de que a burocracia com seus interesses auto-referidos e sua tendência à expansão se restringe aos negócios de Estado, desconsiderando que sua presença no mundo das corporações é tão real quanto na esfera pública, etc.
Mas há ainda aquelas fraudes que Galbraith identifica como "não tão inocentes", porquanto associadas à manipulação deliberada de informações, visando a interesses pecuniários. Os recentes escândalos empresariais americanos — vide o caso Enrom — seriam um exemplo desse tipo de fraude. O aspecto-chave dessas fraudes é o controle ilimitado dos executivos sobre a grande empresa: as assembléias de acionistas e os conselhos administrativos tornaram-se na prática instâncias decorativas, sem influência maior sobre o cotidiano da empresa moderna. A influência dos executivos chega aos órgãos de regulação e controle, como ficou evidenciado na atuação de auditorias tendenciosas e de funcionários públicos corruptos, participantes daqueles escândalos.
A sociedade não dispõe de mecanismos mais eficientes para a prevenção de tais crimes, dentre outras razões porque persistem os mitos do acionista controlador da empresa e de que o capitalismo funciona de forma rotineira, concorrencial. Não se levam em conta o poder da grande empresa e o poder discricionário de seus executivos de concederem benefícios e vantagens a si próprios, às vezes indevidamente. Isto num mundo que tem no enriquecimento pessoal o indicador básico do mérito profissional. Os marcos regulatórios são, assim, insuficientes para coibir tais crimes. E isto é grave, haja vista o papel fundamental da grande empresa para o bem ou o mal-estar econômico-social no mundo hodierno.
Outro tipo de fraude "não tão inocente" ocorre no mundo das finanças. Nesse mundo, geralmente os encarregados de fazer previsões são muito apreciados e, por isso, bem remunerados. Acontece que o futuro, enquanto resultado da combinação de uma soma de eventos sobre os quais não se tem controle, é desconhecido. O desempenho futuro dos negócios é, assim, algo imprevisível. No entanto, tais profissionais atuam como se tivessem o poder de desvendar o futuro. O uso de recursos matemáticos e estatísticos, o sucesso fortuito, além da autoconfiança, estimulam a crença nessas previsões. Porém, tais previsões não deixam de ser interessadas. Da parte dos analistas e homens de negócios, prevê-se aquilo que se quer ouvir, para lucrar ou obter retorno. Nesses casos, esperança e necessidade encobrem a realidade.
Galbraith chega, enfim, ao que considera "a mais prestigiosa forma de fraude": a irrelevância do FED e de seus instrumentos para influenciar o desempenho da economia americana, a despeito de sua grande respeitabilidade. Suas medidas são manifestamente inócuas, muito embora sejam as mais aprovadas e aceitas. Essa aura de respeitabilidade tem base sólida: ela decorre do poder e do prestígio que detêm aqueles que lidam com dinheiro.
Com traço leve, mesclando humor e fina ironia, marca registrada de seus escritos, A economia das fraudes inocentes: verdades para o nosso tempo é um refinamento das principais idéias de Galbraith desenvolvidas ao longo de sua vida de homem de pensamento e de Estado. Num ponto, no entanto, Galbraithmanifesta mudança de posição.
Na sua obra de 1994, Uma viagem pelo tempo econômicoGalbraith considera o capitalismo e a economia avançada moderna, no Ocidente e nos Estados Unidos em particular, como um sistema essencialmente pacífico, excetuando-se possíveis tensões advindas de uma depressão prolongada. Dez anos depois, os acontecimentos na arena internacional e as mudanças na política externa americana o fizeram mudar de posição. Em 2004, Galbraith identifica nos interesses econômicos do establishment militar, o complexo industrial-militar, o sustentáculo dos gastos do Estado americano com armamento, da política agressiva praticada pelo atual governo do país e, em última instância, da guerra e suas conseqüências. Coisa obscurecida pelo mito da existência de dois setores distintos: o público e o privado.
Como observador privilegiado e atento do século XX, suas perspectivas para o século que se inicia não são, assim, animadoras. A dominância dos interesses econômicos sobre a política externa americana apontam para a continuação da guerra e de seus efeitos, dentre os quais, a suspensão dos valores da civilização humana: o nosso supremo fracasso.
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Entrevista: John Kenneth Galbraith
Ainda no ataque
Na ativa aos 96 anos, o lendário economista americano agora atira contra as fraudes corporativas
http://veja.abril.com.br/veja_online_2003/imagens/fioAssinatura.gif
Carlos Graieb

"A moldura da vida humana tem um desenho ruim. Primeiro os erros da juventude, depois as restrições da velhice. Só invejo o que está no meio"

John Kenneth Galbraith é o decano dos economistas de esquerda nos Estados Unidos. Esquerda à moda americana, que não ataca frontalmente o capitalismo, mas acredita que o Estado tem um papel na economia, defende gastos sociais e critica o poder das corporações. Aos 96 anos, Galbraith se encontra há muito tempo aposentado da Universidade Harvard, onde ensinou por três décadas, mas não abandonou o debate público. Num livro recém-lançado, A Economia das Fraudes Inocentes (Companhia das Letras), ele investe contra idéias como a da "soberania do consumidor" e duvida do poder de influência do Fed, o banco central americano. Nascido no Canadá, mas naturalizado americano em 1937, Galbraith não se destacou apenas na academia. Durante a II Guerra Mundial, ocupou um cargo central na administração de Franklin Delano Roosevelt: nenhum preço no país podia ser aumentado sem a sua autorização. Foi o primeiro funcionário público no Ocidente a ser chamado de "czar da economia". Galbraith foi próximo de outros presidentes, como John Kennedy e Lyndon Johnson. Nesta entrevista, ele relembra o passado e comenta o presente.
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Veja – O economista Milton Friedman, seu contemporâneo e adversário, disse recentemente que tinha três conselhos para dar a qualquer governo: gaste menos, regule menos e cobre menos impostos. O senhor concorda com ele?
Galbraith – Conheço Milton Friedman há muitos e muitos anos. Nesse tempo, fui capaz de observá-lo num particular, acima de todos os outros. Trata-se de sua habilidade para sobreviver ao erro persistente em questões econômicas. Dito isso, quero deixar registrado que ele é também uma pessoa persistentemente agradável.
Veja – John Maynard Keynes, uma de suas principais influências como economista, anda um pouco fora de moda atualmente. Qual o legado keynesiano que se deveria guardar?
Galbraith – Não concordo com esse comentário sobre Keynes. A tese central que ele defendeu – a de que a economia requer a influência estabilizadora do Estado – continua intacta. Os governantes que desprezarem essa idéia serão inexoravelmente punidos. Ainda vivemos na Era de Keynes, tanto quanto na Era de Adam Smith.
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Veja – Pode-se dizer que o capitalismo, como a democracia, "é o pior sistema com a exceção de todos os outros", ou ainda existe algum sentido em buscar alternativas radicais a ele?
Galbraith – Dinheiro e capital ainda conferem certa autoridade a quem os possui, mas o poder verdadeiro reside hoje em dia nas grandes corporações. Por isso, tenho relutado em usar a palavra capitalismo. E o mesmo acontece com outros economistas e administradores – ainda que por razões diferentes. Como digo em meu livro, empreendeu-se nas últimas décadas um esforço de troca de nomenclatura. Em vez do capitalista, temos o executivo, personagem que conquistou melhor aceitação pública do que seu antecessor. A um termo cheio de conotações históricas como capitalismo, prefere-se a expressão anódina "sistema de mercado". Freqüentemente, ela esconde o fato de que esse sistema supostamente impessoal está sujeito a manipulações abrangentes.
Veja – O senhor chama de fraude a idéia de que o setor público e o privado são independentes. Por quê?
Galbraith – A economia moderna, representada em sua forma exemplar pelos Estados Unidos, é produto do surgimento de corporações poderosas e de novos métodos de administração empresarial, com sua casta de executivos. O ponto forte dessa economia é a capacidade de mobilizar recursos científicos, organizacionais, culturais e políticos muito variados. O maior de seus efeitos negativos, particularmente visível no presente, é a habilidade das corporações de imiscuir-se à força nas políticas governamentais e direcioná-las. É o que vemos ocorrer agora na malfadada aventura americana no Iraque. Dito de outra maneira, o desserviço da economia moderna está na sua tendência de favorecer concentrações de poder e solapar a lógica da distribuição da autoridade política por meios democráticos. A intromissão do setor privado no chamado setor público é ostensiva e crescente, e negá-la é uma fraude – nada inocente. Essa é a contribuição ainda não devidamente "celebrada" de nossa época à história econômica.
Veja – O senhor considera inexata a idéia de que os acionistas – ou os donos – são os detentores do poder nas grandes corporações. Por quê?
Galbraith – A crença de que os acionistas e os conselhos de administração detêm a autoridade final nas grandes empresas de capital aberto de hoje em dia persiste, mas é uma fuga da realidade. É um mito. O poder na empresa pertence à administração – à burocracia empresarial, ainda que burocracia seja uma palavra fortemente condenada. O grave é que os executivos ganharam pleno controle sobre sua atuação – e sobre sua própria remuneração.
Veja – O que há de errado com o conceito de soberania do consumidor – a idéia de que, no capitalismo, o indivíduo escolhe com independência os bens que vai adquirir?
Galbraith – Essa é uma fraude muito propagada, inclusive no ambiente universitário. Ela nasce da tendência a silenciar sobre o poder de controle do marketing. O "consumidor soberano" na verdade é tutelado sem cessar pelos altamente qualificados mandarins da propaganda. Que ninguém se engane: não importa o número de gráficos sobre o poder de escolha do público que os economistas produzam, o fato é que atribuímos ao consumidor uma autoridade maior do que a que ele realmente possui.
Veja – O senhor critica os gastos americanos com armamentos. Os Estados Unidos poderiam gastar menos nesse campo?
Galbraith – Poderiam e deveriam. A força motriz desses gastos encontra-se na autoridade conferida nos Estados Unidos às Forças Armadas e suas lideranças, e também nos interesses do complexo industrial-militar. Empresas nominalmente privadas têm hoje um pé firmemente plantado no establishment militar americano e influenciam de maneira decisiva no orçamento de defesa. Essas empresas conquistaram uma fatia de poder sobre o setor público, sobre nossa política externa e sobre nossos acordos militares.
Veja – O Fed, o banco central americano, e seu presidente, Alan Greenspan, desfrutam de grande respeito. Por que o senhor discorda?
Galbraith – Alan Greenspan é uma figura pública muito hábil. Quanto a isso, não há dúvida. Ele é o beneficiário e, em certa medida, também o arquiteto da crença de que as políticas do Fed têm um efeito determinante sobre a economia. Exceto no campo da habitação, isso é um exagero. Há algo de muito reconfortante na crença de que o Fed tem essa autoridade serena e luminosa. Olhemos a história. Quase um século de experiência mostra que essa autoridade é frágil, quase negligenciável. Empresas investem para lucrar, e suas decisões são afetadas apenas marginalmente pela taxa de juros – quando são. Um período de euforia econômica se estenderá, a despeito da modificação das taxas, assim como uma fase de declínio também não será revertida. Para todos os que se preocupam com moeda e crédito, a afirmação de que o Fed tem poderes especiais supostamente denota uma inteligência econômica do tipo mais refinado. É o oposto disso.



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Por uma governança corporativa pública
Márcia Andréa Suzano T. da Silva
Há uma década o termo governança corporativa era praticamente desconhecido no Brasil. Hoje é amplamente utilizado e relacionado à gestão e controle de empresas. Essa disseminação no Brasil deu-se com a criação, em 1995, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC, sociedade civil nacional, sem fins lucrativos, pioneira em governança corporativa empresarial. Seus objetivos, dentre outros, são formar profissionais qualificados para atuação em conselhos (pois nem sempre as empresas contam com conselheiros qualificados para o cargo e que exerçam, de fato, sua função legal); e estimular a capacitação profissional para aprimoramento das práticas de governança corporativa das empresas. A maior contribuição do IBGC está materializada no Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, atualmente na terceira versão (2004).
Sobre esse assunto a Comissão de Valores Mobiliários lançou em 2002 uma Cartilha de Recomendações sobre Governança Corporativa. Uma das metas é estimular o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro por meio da divulgação de práticas de boa governança corporativa.
Mas do que trata, então, a governança corporativa? Segundo o Código do IBGC "é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas da governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade". Os princípios básicos relacionados no Código são: transparência, eqüidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Podemos concluir, assim, que as práticas de governança corporativa hoje estimuladas estão diretamente vinculadas às empresas da iniciativa privada e de economia mista aberta.
Este texto, porém, pretende evidenciar que os princípios fundamentais da governança corporativa têm respaldo em outra área de atuação, a administração pública. Muito se cobra dos governos para introduzir modernas técnicas de administração e atuação empreendedora. Contudo, as práticas de sucesso defendidas pela Governança Corporativa foram igualmente estabelecidas, e há muito tempo, para atuação dos Governos brasileiros, junto aos seus "acionistas - os cidadãos brasileiros". Seguem alguns exemplos:
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Em resumo, podemos concluir que os princípios da governança corporativa aplicados à iniciativa privada não são recentes para o contexto da administração pública. As experiências compartilhadas entre ambos os setores são um caminho promissor. Os conselhos fiscais e de administração das empresas públicas em geral poderiam atuar com base nas práticas de governança. Os órgãos de governo poderiam instituir, em conjunto, o conceito de governança corporativa pública, com o compromisso de melhorar seus resultados - os serviços prestados aos cidadãos brasileiros - e ampliar, assim, o foco atual de governança corporativa. Há muito a aprender com a troca de experiências e a aproximação seria salutar. A partir dessa reflexão temos que concordar com a afirmação de John KennethGalbraith em seu artigo "O mito dos dois setores", de 2004: "examinada de uma forma séria, a propalada divisão entre os setores público e privado não faz sentido. Não é realidade, é retórica".

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Grandes Economistas VI: A fina ironia de John Kenneth Galbraith

Conselho Federal de Economia  

Contribuição de Luiz Machado*   

11 de June de 2007


John Kenneth Galbraith nasceu no condado de Elgin, em Ontário, Canadá, no ano de 1908. Naturalizado norteamericano, vive em Cambridge, Massachusetts, na área residencial da Universidade de Harvard, da qual é professor emérito. Ainda lúcido, segue refletindo e escrevendo sobre os problemas econômicos da atualidade, com toda a sabedoria acumulada ao longo de seus 97 anos de idade. Galbraith é um dos economistas mais lidos de todos os tempos. 

"Especificamente, o planejamento industrial exige que os preços estejam sob controle. A tecnologia moderna reduz a segurança do mercado e aumenta o comprometimento de tempo e capital que se exigem na produção. Por essa razão, não se podem deixar os preços aos caprichos do mercado não dirigido". (John Kenneth Galbraith
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Para vender um livro de Economia é preciso, muitas vezes, saber "dourar a pílula". Uma capa atraente, sumários que prometam a síntese mais bem feita das grandes questões econômicas etc. Mas é provável que o leitor não especializado se sinta frustrado logo nas primeiras páginas de seu novo produto. Sob títulos pomposos de "Teoria da Produção", "Teoria do Capital" e "Teoria do Lucro" etc. não é raro surgirem textos áridos e abstratos que se remetam apenas remotamente à discussão econômica cotidiana. Já alguns guias de leitura mais acessíveis são privados do aval de qualidade e rigor científico da Academia.

A obra de John Kenneth Galbraith constitui uma notória exceção. Os redutos acadêmicos mais vetustos tiveram que incluir seu nome, e seus livros dispensam qualquer esforço adicional de marketing por parte dos editores.

Segundo Galbraith, "há poucas idéias úteis em Economia, se é que há, que não se podem exprimir em linguagem clara". Trata-se de um exagero. Não são muitos os que conseguem dar conta de objetos tão complexos quanto às modernas economias industriais de maneira acessível.

Apesar de seu extraordinário êxito em termos editoriais - Galbraith é um dos economistas mais lidos de todos os tempos e seu livro, A era da incerteza, foi transformado pela BBC numa série em vídeo que foi transmitida em dezenas de países - seu enquadramento entre os maiores economistas contemporâneos está longe de se constituir numa unanimidade, tanto é que ele não foi até hoje agraciado com o prestigiado Prêmio Nobel de Economia, tema de interessante do artigo do Prof. David Warsh no livro Economic principals: masters and mavericks of modern economics.

Entre os motivos que podem explicar este "esquecimento" eu me arriscaria a destacar dois. O primeiro, mencionado por muitos analistas, seria decorrente da falta de contribuições originais de Galbraith para a evolução da teoria econômica. De acordo com essa linha de argumentação, ele seria muito mais um divulgador de idéias do que um proponente de alguma idéia que tenha se constituído num ramo de pesquisa de contribuição significativa para a economia. Além disso,Galbraith ousou escrever sobre temas muito variados, como se pode verificar na extensa lista de livros de sua autoria indicados
no final deste artigo, não tendo tempo, por isso, para um trabalho mais sistemático e profundo sobre um mesmo tema.

De certa forma, esse mesmo tipo de crítica foi feito a Stuart Mill, cuja importância para a evolução da teoria econômica também é questionada por alguns analistas (poucos, felizmente!). Procurarei pôr em xeque este motivo mais adiante, neste artigo.

O segundo, jamais admitido, seria conseqüência da combinação de dois fatores: 

1) a forma crítica com que ele se refere à chamada sabedoria convencional; 

2) ao estilo irônico e "politicamente incorreto" com que ele muitas vezes trata a economia e os próprios economistas.

Examinando um pouco a trajetória pessoal de Galbraith, cabe destacar desde logo que ele teve papel importante tanto na esfera real como na esfera acadêmica, não sendo, portanto, merecedor do incômodo rótulo de "economista desocupado", utilizado por alguns ministros menos polidos desgostosos por críticas que lhes são dirigidas. Tendo se especializado inicialmente em economia agrícola, foi diretor do Gabinete de Administração de Preços, em Washington, numa de suas primeiras funções exercidas em diferentes gestões do Partido Democrata. Nessa área, ligada à economia agrícola, foi
também consultor da Federação dos Agricultores dos Estados Unidos.

No final da Segunda Guerra, Galbraith coordenou um amplo estudo governamental sobre as economias alemã e japonesa. Apesar de ter colaborado, como já assinalado, com diversas gestões do Partido Democrata, foi ao presidente John Kennedy - a quem conheceu em Harvard - que ele prestou colaboração mais efetiva, tendo exercido forte influência na formulação de seu programa de governo, além de ter sido embaixador dos Estados Unidos na Índia. 

Essa destacada trajetória pessoal permitiu-lhe não apenas participar de grandes acontecimentos, mas também travar relações de conhecimento pessoal com alguns dos mais notáveis personagens da história do século XX, tais como os economistas John Maynard Keynes, Joseph A. Schumpeter, Paul M. Sweezy, Paul Baran, Wassily Leontief, W. W. Rostow e Theodore W. Schultz, o primeiro ministro da Índia, Jawaharlal Nehru, Harry Luce, um dos maiores nomes do mundo das comunicações, além de vários presidentes dos Estados Unidos. Memoráveis relatos desses acontecimentos e dessas e outras pessoas ilustres com quem ele travou relações podem ser vistos em três dos livros indicados ao final: Uma vida em nossos tempos; Uma visão de Galbraith sobre pessoas, políticos, poder militar e as artes; e Contando vantagem. 

Na esfera acadêmica, Galbraith lecionou inicialmente na Universidade de Toronto. Depois de se radicalizar nos Estados Unidos, esteve em Berkeley, posteriormente em Princeton, para, finalmente, se fixar em Harvard, onde se tornou catedrático e professor emérito. Além das atividades já mencionadas nas esferas real e acadêmica, Galbraith também se dedicou ao jornalismo, escrevendo para a revista Fortune nos anos de 1943 e 1944. Foi ainda presidente da American Economic Association.

Embora não seja fácil enquadrá-lo numa única escola dentro da história do pensamento econômico, arrisco-me a fazer algumas considerações a esse respeito. Tendo rompido precocemente com a corrente teórica dominante da escola neoclássica, baseada nas idéias de William Stanley Jevons, Leon Walras e, principalmente, Alfred Marshall, Galbraith teve duas influências marcantes em sua produção teórica: a primeira delas foi da chamada escola institucionalista, cujo maior expoente foi Thorstein Veblen, autor de A teoria da classe ociosa; a segunda foi da escola keynesiana, uma vez
que além de se declarar (em A era da incerteza) seguidor das idéias de Keynes, manteve relações com dois dos mais importantes de seus discípulos, Joan Robinson e Lorde Kohn. O Prof. Gesner de Oliveira refere-se também ao contato com o polonês Michal Kalecki, "cujos trabalhos sobre a determinação dos níveis de renda e emprego são bastante convergentes com as proposições keynesianas".

Como legados dessas duas escolas Galbraith herdou um forte interesse pelo papel preponderante - positivo e negativo - das elites, evidente em A sociedade afluente, e pela influência relevante das instituições sobre o desempenho da economia, aspecto primordial daquela que é por ele mesmo considerada a sua obra mais importante, O novo estado industrial, onde chama a atenção para algo essencial à compreensão da economia moderna, o poder da tecnoestrutura, conseqüência da dissociação entre a propriedade do capital e a gestão efetiva nas grandes corporações empresariais
contemporâneas.

Por trás de todas as suas análises, a clara recusa à aceitação da eterna idéia-força do liberalismo, a crença no laissezfaire e na eficiência da economia de mercado. Galbraith ficou fortemente influenciado pela Grande Depressão, que teve início com a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, e que provocou uma queda de 1/3 na produção norte-americana, além de ter determinado o desemprego de ¼ da força de trabalho dos Estados Unidos. Ao abordar o assunto em vários de seus livros (1929, o colapso da Bolsa; Moeda, de onde veio, para onde foi; A era da incerteza; O pensamento econômico em perspectiva: uma história crítica; Uma breve história da euforia financeira; e A economia das fraudes inocentes. Verdades para o nosso tempo) Galbraith questiona a hipótese predominante de que o crack da Bolsa foi conseqüência de uma crise geral de superprodução e chama a atenção para o que ele chama de choque de especulação, também responsável, noutras épocas, por agudas recessões econômicas.

Prometi, contestar a crítica de que Galbraith não teve nenhuma contribuição relevante para a evolução da teoria econômica. A análise que ele faz do poder, não só econômico, mas também político, das grandes corporações e da tecno-estrutura responsável por sua gestão é, por si só, fundamental para a compreensão da economia contemporânea, fator, aliás, que se torna cada vez mais relevante nestes tempos de economia globalizada.

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Referências e indicações webgráficas


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Este texto foi publicado originalmente em http://www.lucianopires.com.br.

A publicação deste artigo no site do COFECON foi autorizada pelo autor.

*Economista, formado pela Universidade Mackenzie em 1977. É Vice-Diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP, na qual é Professor Titular das disciplinas de História do Pensamento Econômico e História Econômica Geral.

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O PODER ORGANIZACIONAL BASEADO NOS ESCRITOS DE GALBRAITH

THE ORGANIZATIONAL POWER BASED ON GALBRAITH’S WRITINGS



Luciano Ferreira de Lima 1

1 Autor para contato: Rua Sete de Setembro, 230 - Centro, Pinhão, PR, Brasil;
(42) 677-1306; e-mail: llucianolima@yahoo.com.br; CESCAGE - Centro de Ensino
Superior dos Campos Gerais, Ponta Grossa, PR
Recebido para publicação em 19/08/2003
Aceito para publicação em 30/10/2003

RESUMO

O poder, segundo Galbraith, é exercido através de três instrumentos: poder condigno, compensatório e condicionado. Na sociedade hodierna, percebe-se o poder manifestado pelas empresas nacionais e multinacionais, influenciando o Mercado, consumidores e a classe trabalhadora. O Mercado representa o interesse de poucas organizações, refletindo através do poder condicionado e condigno as “regras do mercado” que as demais organizações têm que seguir. Os acionistas, ao contrário de algumas décadas atrás, influem na tomada de decisão das empresas visando o lucro no curto prazo, o que acaba por valorizar cada vez mais o capital em detrimento da produção de bens e/ou na prestação de serviços. A classe trabalhadora, com o enfraquecimento dos sindicatos, está mais submissa aos objetivos organizacionais. 

Palavras-chave: poder; organização; capital; trabalho

ABSTRACT

Power, according to Galbraith, is practiced through three instruments: merited, compensatory and conditioned powers. In modern society the power manifested by nacional and multinacional companies is noticieable, influencing the Market, the consumers and the working class. The Market represents the interests of few organizations, reflecting, through the conditioned and merited powers, the “Market
rules” that other organizations are supposed to follow. The shareholders, differently from some decades ago, have influence on the companies’ choices, aiming at the profit in short terms, which increases the value of the capital in detriment of the production of goods and/or the rendering of services. The working class, due to the weakness of the labor union, is more submissive to the organizational aims.

Key words: power; organization; capital; work


1 Segundo Galbraith (1999, p. 5), “o poder compensatório conquista submissão oferecendo uma recompensa positiva, proporcionando algo de valor ao indivíduo que assim se submete.”

2 Para Galbraith (1999, p. 6), “o poder condicionado é exercido mediante a mudança de uma convicção, de uma crença.

4 De acordo com Galbraith (1999, p. 5), “o poder condigno obtém submissão infligindo ou ameaçando conseqüências adequadamente adversas.”

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ECONOMIA DAS FRAUDES INOCENTES, A

 Por John Kenneth Galbraith



Visão geral do livro

John Kenneth Galbraith sempre foi considerado o enfant terrible da economia americana, aquele que percebe que o rei está nu e faz questão de trombetear o fato. Suas opiniões costumam ser originais e provocativas, divergindo dos ortodoxos manuais de economia. 'A economia das fraudes inocentes' pode ser considerado o extrato do pensamento produzido por uma mente criativa e destemida durante toda a vida. Nele, Galbraith afirma que vivemos num mundo de mentiras impingidas como verdades cristalinas e irrefutáveis. Um mundo de fraudes, nem todas inocentes.
Visualização parcial - 2004 - 80 páginas

Ver 



Conteúdo

Introdução e nota pessoal
9
A natureza da fraude inocente
15
O novo nome do sistema
18
26
33
A empresa como burocracia
39
O poder da empresa
47
mito dos dois setores
51
O mundo das finanças
57
A elegante fuga da realidade
62
O fim para a inocência da empresa
69
Política externa e militar
73
A última palavra
78

Visualização parcial, dos capítulos em azul acima, no Google Livros:





Mais informações sobre o livro

TítuloECONOMIA DAS FRAUDES INOCENTES, A
AutorJohn Kenneth Galbraith
EditoraEditora Companhia das Letras, 2004
ISBN8535905707, 9788535905700
Num. págs.80 páginas
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Revista de Economia Política
Print version ISSN 0101-3157
Rev. Econ. Polit. vol.26 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2006
doi: 10.1590/S0101-31572006000400009 
ARTIGOS
Sobre o legado de John Kenneth Galbraith

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